domingo, 11 de abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dez Golpes Contra a Política

Politica é a arte da separação.
Onde a vida têm perdido sua plenitude, onde os pensamentos e as ações dos indivíduos tem sido dissecados, catalogados e cercados em esferas separadas - a politica se inicia. Tendo distanciado algumas das atividades dos individuos (a discussão, conflito, decisão em comum, entendimento) em uma zona que por si mesma clama governar tudo e todos, certo de sua independência, a politica é ao mesmo tempo a separação entre as separações, e a administração hierarquica do separatismo. Deste modo, a politica se mostra como uma especialização, forçada a transformar o problema sem solução de sua função num pressuposto necessário para resolver todos os problemas. Por esta razão, o papel do profissional na politica é incontestável - e tudo que pode ser feito é substituí-los de tempos em tempos. Sempre que os subversivos aceitam separar os vários momentos da vida e mudar condições específicas iniciadas por tais separações, eles se tornam os melhores aliados da ordem mundial. De fato, enquanto a política aspira ser um tipo de precondição da própria vida, a política ataca com seu bafo mortal em todo lugar.

A politica é a arte da representação
Para governar as mutilações impostas a vida, a política restringe os individuos a passividade, a contemplação do espetáculo preparado sob a impossibilidade de suas ações, sob a irresponsável delegação de suas decisões. Então, enquanto a abdicação da vontade de determinar a sí próprio transforma indivíduos em apêndices da máquina estatal, a politica recompõem a totalidade da fragmentação numa falsa unidade. O poder e a ideologia celebram portanto seu casamento mortal. Se a representação é o que toma a capacidade de agir dos individuos, substituindo pela ilusão de serem participantes ao invés de espectadores, esta dimensão do politico sempre reaparece onde quer que qualquer organização toma o lugar do individuo e qualquer programa os mantem em passividade. Isto sempre reaparece onde uma ideologia une o que é separado na vida.

A politica é a arte da mediação
Entre a tão chamada totalidade e os individuos, e entre individuo e individuo. No momento em que a divina vontade tem necessidade de seus interpretes terrestres, deste modo a coletividade tem necessidade de seus delegados. Assim como na religião, não existe relacionamento entre humanos mas sim entre os crentes, assim como na politica não são os individuos juntos, mas sim os cidadãos. A conexão entre os membros impedem a união porque a separação desaparece com a união. A politica nos submete todos igualmente porque não existe diferença na escravidão - igualdade perante Deus, igualdade perante a lei. É por isso que a politica subsititui o dialogo real, o qual recusa mediações. O racismo é o sentimento de pertencer que impede a relação direta entre os individuos. Toda politica é uma simulação participatória. Toda politica é racista. Apenas pela demolição de suas barreiras pela revolta cada um poderia se conhecer em sua individualidade. Eu me revolto, consequente, estamos em revolta. Mas se estamos, adeus revolta.

Politica é a arte da impersonalidade
Cada ação é como o momento de uma faísca que escapa da ordem da regra geral. A politica é a administração desta ordem. "Que tipo de ação você quer face a complexidade do mundo?" Isto é aqueles que tem sido entorpecidos pela dual sonolência de um Sim que é não e um Mais que é nunca. Burocracia, este criado fiel da politica, é o nada administrado para então ninguem poder agir, portanto ninguem reconhece sua responsabilidade na irresponsabilidade generallizada. O poder não diz mais que está tudo sob controle, ele diz o oposto: Se eu não administrar sempre para achar a solução, imagine alguma coisa qualquer ".
A politica democratica esta baseada agora na ideologia catastrofica da emergencia (" Nós ou o fascismo, nós ou o terrorismo, nós ou o desconhecido"). Mesmo quando oposto, geralmente é sempre um evento que nunca acontece e que cancela todos aquels que acontecem. A politica convida a tdos a participarem do esptaculo deste movimento imóvel.

A politica é a arte de adiar.
O tempo da politica é o tempo futuro, este é o porque que apriosiona todos num presente miserável. Todos juntos, porém amanhã. Qualquer um que diz " Eu e Agora!" arruina a ordem da espera com a impaciência que é a exuberancia do desejo. Esperar por um objetivo que escapa do percurso do particular. Esperar por um crescimento quantitativo adequado. Esperar por resultados mensuráveis. Esperar pela morte. Politica é a constante tentativa em transformar a aventura em futuro. Mas apenas se eu decido "eu e agora" poderia sempre ser um nós que não é o espaço de renuncia mutua, a mentira que rende a cada um de nós o controle do outro. Qualquer um que queira agir imediatamente é sempre colocado sob um olhar suspeito. Se não é um provocador, isto é, pode ser usado como um. Mas é o momento de uma ação e de um prazer sem amanhãs que nos transporta para a manhã seguinte. Sem os olhos fixados na mão do relógio.

A politica é a arte da acomodação.
Sempre a espera das condições estarem propicias, Acaba-se , cedo ou tarde formando uma aliança com o senhor da espera. Na realidade, a razão, que é o orgão da impersonalidade, sempre fornece alguma boa razão para chegar a um acordo, para restringir danos, para a salvação de algum detalhe de um todo desprezivél. A politica tem um olhar afiado para descobrir alianças. Não são todos os mesmos, eles dizem. O Partido Comunista Reformado certamente não é como a crescente e perigosa direita. (não votamos para eles nas eleições - somos abstencionistas - porem as comissões civis, as iniciativas nas praças são outra coisa). A saúde pública é sempre melhor que a assitência privada (devido ao custo). Um salário minimo garantido é sempre preferível ao desemprego. A politica é o mundo do menos mal. E submeter a si mesmo ao menos mal, pouco a pouco aceita-se a totalidade na qual apenas parcialidades são garantidas. Qualquer um que contrariamente não quer nada com este menos mal é um aventureiro. Ou aristocráta.

A politica é a arte da avaliação (calculo).
Para que se possa fazer alianças lucrativas, é necessário aprender os segredos dos aliados. Avaliação politica é o primeiro segredo. É necessário aprender por onde andar. É necessário desenvolver relações de esforços e resultados. E por meio do calculo do que se tem, acaba-se se beneficiando de tudo exceto da vontade de se posicionar no limite e perder. Portanto, sempre se dedica consigo mesmo, cuidadoso e rapido para pedir a conta. Com o olho fixado no que o circunda, nunca se esquece de si mesmo. Vigilante como um militar. Quando o amor de si mesmo se torna escessivo requer (...).
E esta superabundanicia de vida nos faz esquercermo de nós. Na tensão da agitação, nos faz perdera conta. Mas o esquecimento de nós mesmos é o desejo de um mundo no qual é o preço de perder a si mesmo, um mundo que
merece nosso esquecimento. E isto é o porque que o mundo esta assim, administrado por carcereiros e contadores, destruido - parafazer espaço para o gasto de nós mesmos. A insurreição começa aqui. Superando o calculo, mas não através da carencia, como o humanitarismo perfeitamente moderado e silencioso aliando-se com as recomendações do carrasco, mas sim através do excesso. Aqui acaba a política.


A política é a arte do controle.
Para que a atividade humana não seja libertada dos grilhões das obrigações e do trabalho revelando a si mesmo em todo seu potencial. Para que os trabalhadores não se encontrem como individuos e coloquem um fim na exploração. Para que os estudantes não decidam destruir as escolas para que possam escolher quando e como aprender. Para que os amigos intimos e parentes não se apaixonem e deixem de ser meros servos de um mero estado. Para que as crianças sejam copias imperfeitas dos adultos. Para que a distinção entre bons (anarquistas) e maus (anarquistas) não seja disfeita. Para que os individuos não tenham relacionamentos e sim mercadoria. Para que ninguem desobedeça a autoridade. Para caso alguem atacar a estrutura da exploração do estado, alguem apressa-se a dizer, "este não o trabalho de camaradas" . Para que os bancos, cortes e quartéis não explodam. Resumindo, para que a vida não se manifeste.

A politica é a arte da recuperação
A mais efetiva maneira de desencorajar toda rebelião, todo desejo para uma mudança real, é apresentar um homem ou mulher do estado como subversivos, ou melhor ainda, tranformar um subversivo em um homem ou mulher do estado. Nem todas as pessoas são pagas pelo governo. Existem funcionários que não são encontrados nos parlamentos. Antes, frequentam os centros sociais e conhecem suficientemente as teorias revolucionárias. Eles argumentam sobre o potencial libertário da tecnologia; teorizam sobre as esferas públicas não-estatais e a excelência de tal questão. A realidade - eles sabem isto bem - é sempre mais complexa do que qualquer ação. Portanto, se eles anseiam por uma teoria total, é apenas para negligenciar totalmente isso na vida diária. O poder precisa deles porque - como eles mesmos nos explicam - quando ninguem o critíca, o próprio poder se critica.

A politica é a arte da repressão...
De qualquer um que não separa os momentos de sua vida e daqueles que querem mudar as condições de sua vida começando pela totalidade dos seus desejos. De qualquer um que queira por Fogo na passividade, contemplação e delegação. Daqueles que não querem ser suplantado por qualquer organização ou imobilizado por qualquer progama. De qualquer um que queira ter relações diretas entre individuos e fazer diferente cada espaço uniforme. De qualquer um que não tenha nenhum nós para qual jurar. De qualquer um que pertube a ordem de esperar pois quer se levantar imediatamente, não amanhã ou depois de amanhã. De qualquer um que se ofereça sem compensações e se comporta de modo impróprio em excesso. De qualquer um que defenda seus camaradas com amor e determinação. De qualquer um que ofereça aos recuperadores uma só possibilidade: a de desaparecerem. De qualquer um que recuse tomar lugar nos numerosos grupos de espertos e de anesteziados. De qualquer um que não queira nem governar nem ser governado. De qualquer um que queira transformar o futuro numa fascinante aventura.


“Il Pugnale”, Maio de 1996

domingo, 4 de abril de 2010

A Domesticação da Vida

A domesticação é o processo que a civilização usa para doutrinar e controlar a vida de acordo com a sua lógica. Esses mecanismos aperfeiçoados de subordinação incluem: domesticação, criação, manipulação genética, intimidação, extorsão, aprisionamento, adestramento, coerção, chantagem, escravidão, governo, terrorismo, assassinato - a lista continua, incluindo quase todas as interações sociais civilizadas. Suas ações e efeitos podem ser examinados e sentidos por toda sociedade, reforçada pelas várias instituições, rituais e costumes. É também o processo pelo qual populações humanas antes nômades se mudaram para uma existência sedentária e assentada através da agricultura e criação de animais. Este tipo de domesticação requer uma relação totalitária com a terra, com as plantas e os animais sendo domesticados. Ao passo que em um estado selvagem toda vida divide e compete por recursos, a domesticação destrói esse balanço. A paisagem domesticada (ex.: terras pastoris/campos de agricultura, e em um nível menor, horticultura e jardinagem) requer o fim da livre divisão dos recursos que antes existiam; onde antes era "tudo é de todos", agora é "meu". No romance Ismael, o autor Daniel Quinn fala sobre essa transformação dos "largadores" (aqueles que aceitavam o que a Terra oferecia) aos "pegadores" (aqueles que exigiam da Terra o que eles queriam). Essa noção de posse é o que levou a fundação da hierarquia social enquanto a propriedade e o poder emergiam.

A domesticação não somente muda a ecologia de uma ordem livre para uma ordem totalitária, como escraviza as espécies que são domesticadas. De modo geral, quanto mais um ambiente é controlado, menos sustentável ele se torna. A própria domesticação humana envolve vários tipos de posses e controles, em comparação com o modo de vida nômade e coletor. Não é de se esperar que muitas alterações feitas de uma vida nômade-coletora para vida domesticada não foram feitas de forma autônoma, mas foram feitas através da lâmina da espada e da mira das armas. Considerando que somente há 2.000 anos atrás a maior parte da população do mundo era composta de coletores-caçadores, agora não chega 0.01%. O caminho da domesticação é uma força colonizadora que tem trazido uma grande quantidade de patologias para as populações dominadas e para os criadores dessa prática. Vários exemplos incluem um declínio na saúde nutricional devido ao uso de dietas não diversificadas, cerca de 40 a 60 tipos de doenças foram integradas nas populações humanas através de animais domesticados (como a influenza, gripe comum, tuberculose e a gripe aviária), o aumento dos excedentes que poderiam ser usados para alimentar a população desequilibrada, o que invariavelmente envolve a propriedade e o fim da divisão incondicional.


Tradução: Coletivo Ervadaninha - iniciativa anarquista-verde

sexta-feira, 2 de abril de 2010

sábado, 13 de março de 2010


O sentido da Auto-observação

Nesta lição aprenderemos sobre um precioso sentido que todos possuímos, mas que infelizmente, pelo seu total desconhecimento e conseqüente desuso, está atrofiado.
Felizmente, conforme vamos voltando a usar este sentido, este vai novamente se desenvolvendo e é como se fossemos abrindo gradualmente uma janela em nós mesmos, a qual por muito tempo permaneceu fechada e agora permite que um pouco de luz entre e ilumine nosso mundo interior, e dessa forma vamos conseguindo enxergar pouco a pouco tudo o que ali existe.

Conforme mais exercitamos este sentido mais a janela se abre e conseqüentemente mais luz entra, e assim vamos enxergando cada vez mais e mais coisas que até então estavam ocultas e que nem remotamente suspeitávamos que existiam.
Esse sentido é chamado de auto-observação e compreender este tema é básico e fundamental.
Não é possível nos conhecermos a fundo sem utilizar o sentido da auto-observação.

Mas afinal, o que vamos observar em nós?
Através da auto-observação iremos ver e sentir o que se passa nos centros da máquina humana, nos cinco centros inferiores que estudamos na lição anterior.
E como veremos nesta lição, nestes centros a todo instante algo está ocorrendo, e na maioria das vezes sem nosso conhecimento e muito menos consentimento.

E como fazer a auto-observação?
Não há uma técnica para se fazer a auto-observação.
Simplesmente, conhecendo quais são os centros da máquina humana (intelectual – motor – emocional – instintivo – sexual), passamos a observá-los, ou seja, dirigimos nossa atenção para estes centros a fim de percebermos quais sentimentos e pensamentos estão se manifestando ali.
Para isso não é necessário parar de fazer o que estamos fazendo, seja em casa, no trabalho ou em qualquer lugar que se esteja.
Praticando a auto-observação você verá que este sentido nos permite ver e sentir extraordinariamente o que se passa dentro de nós e, ao mesmo tempo, ter total atenção no mundo exterior e ao que estamos fazendo.
Na verdade, como a prática lhe mostrará, se consegue ter muito mais atenção e concentração no que estamos fazendo quando estamos em auto-observação.

Agora que já estamos com nossa atenção dirigida para nossos centros, devemos observar o que está ocorrendo ali, sejam pensamentos ou sentimentos.
Conforme vimos na lição anterior, os defeitos psicológicos atuam nos centros da máquina humana, nutrindo-se da energia destes centros e causando muitos malefícios físicos e psicológicos.
Quando dizemos atuam, isso significa que provocam, dependendo do centro e da natureza do defeito psicológico, certos tipos de pensamentos, sentimentos, etc., às vezes incrivelmente amargos e dolorosos o suficiente para causar um profundo sofrimento.

A título de exemplo, relacionamos abaixo o que podemos observar de mais comum em cada um dos cinco centros da máquina humana:


  • Centro Intelectual: pensamentos mórbidos e negativos, para com você mesmo e para com as outras pessoas, como a ira, a luxúria, a inveja, a cobiça, a desonestidade, a traição, o roubo, a maledicência, etc.
    Devemos também observar como os pensamentos mudam rapidamente. Pensamos a maior parte do tempo nas coisas que fizemos ou que vamos fazer, no que vimos na televisão, o que deveríamos ter falado ou vamos dizer a fulano, enfim uma sucessão de pensamentos sem controle e normalmente ligados ao passado ou ao futuro.
    Toda essa confusão de pensamentos e imagens mentais são também causadas pelos defeitos psicológicos e podem desgastar muito uma pessoa.

  • Centro Motor: basicamente neste centro o que podemos observar são movimentos feitos mecanicamente, de forma automática, sem ter atenção sobre eles.
    Um exemplo clássico é quando dirigimos um carro e ao mesmo tempo estamos pensando em várias outras coisas e, no entanto, continuamos a trocar as marchas, acelerar, frear, etc., tudo feito de forma automática.
    Agora podemos nos perguntar: Por que uma pessoa ultrapassa um sinal vermelho sem se dar conta e provoca um acidente?
    Por que uma pessoa atravessa a rua sem perceber que um carro está vindo em sua direção e é atropelada?
    Essas coisas só acontecem porque as pessoas não estão conscientes de seus movimentos, de seu centro motor. Precisamos nos esforçar por fazer os movimentos com atenção.

  • Centro emocional: emoções negativas de todo o tipo como o ódio (ainda que sutilmente disfarçado), a inveja, o medo (não importa do que seja), a angústia, a ansiedade, a impaciência, o apego a coisas e pessoas, preocupações, sentimentos exagerados, etc.
    Um mesmo defeito psicológico pode atuar, por exemplo, primeiro no centro emocional, depois no centro intelectual e em seguida no centro motor. Por exemplo, quando alguém diz algo que não gostamos.
    Ficamos bravos (centro emocional) e logo pensamos em reagir ou ficamos pensando em muitas coisas que deveríamos ter falado, feito, etc. (centro intelectual).
    Podemos ficar mais identificados ainda com a situação e fazer gestos ou mesmo brigar.
    Observe neste exemplo que toda a máquina humana foi controlada pelo ego como se fosse uma marionete, passando a controlar primeiramente o centro emocional, depois o intelectual e por fim o centro motor.
    Se estivermos em auto-observação veremos que isso acontece a todo o momento.

  • Centro Instintivo: neste centro o que observamos é o exagero ou abuso de certos instintos naturais.
    Vejamos por exemplo o instinto materno, que faz com que naturalmente uma mãe zele pela sobrevivência de seu filho. O abuso deste instinto seria expresso na forma de uma super-proteção por parte da mãe, fazendo com que ela cuide e se preocupe exageradamente com seu filho, mesmo quando este já possui idade suficiente para cuidar de si mesmo.
    Mais comum é o abuso do instinto de sobrevivência, que entre outras coisas, nos diz que devemos nos alimentar para sobreviver.
    Neste caso os defeitos psicológicos atuam fazendo com que a pessoa se alimente em demasia, comendo muito mais do que necessita para sobreviver. É o conhecido defeito da gula.

  • Centro sexual: abuso das energias sexuais. A energia criadora do sexo é infinitamente a mais poderosa que possuímos e que o ego gasta bestamente vendo filmes, cenas, anúncios, explicita ou implicitamente pornográficos ou imorais, pensamentos mórbidos, conversas desonestas, etc.
    O abuso das energias sexuais leva, cedo ou tarde, à impotência sexual.

No começo conseguimos nos auto-observar muito pouco, talvez algumas vezes por dia apenas. Isso varia de pessoa para pessoa, depende do quanto está atrofiado este precioso sentido.
Porém, com a prática, esse tempo de auto-observação vai gradualmente aumentando e passamos a nos autoconhecer cada vez mais, jogando mais luz em nosso interior e vendo como realmente somos interiormente.

E quando estamos em auto-observação e percebemos a atuação de algum defeito psicológico, o que fazer para que este seja eliminado?
No decorrer do curso aprenderemos, como já mencionado na lição anterior, a técnica do morrer psicológico, através da qual podemos eliminar cada defeito psicológico que conseguimos perceber atuando em nós.
Por isso desde já pratique muito a auto-observação, exercite e desenvolva este sentido porque dele dependerá sua mudança interior.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010




De fato algumas pessoas possuem um verdadeiro reflexo de submissão, um medo irracional da liberdade, um masoquismo visível em toda parte da vida cotidiana. Com que amarga facilidade se abandona um desejo, uma paixão, a parte essencial de si. Com que passividade, com que inércia se aceita viver por uma coisa qualquer, agir por qualquer coisa, com a palavra "coisa" arrastando por toda parte seu peso morto. Uma vez que é difícil ser si mesmo, adbica-se o mais rápido possível, ao primeiro pretexto: o amor pelos filhos, pela leitura, pela alcachofra. Nosso desejo de cura apaga-se sob tal generalidade abstrata da doença.

Raoul Vaneigem

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Violência passional, violência justificável




Eu estava conversando com um amigo sobre o tema da violência revolucionária; ele estava defendendo o direito de ferir ou matar em auto-defesa, concedido a todo funcionário governamental ou corporativo envolvido num ato de assassinato, e eu estava tentando explicar porque essa noção me desagradava. Meu amigo tinha uma vantagem - afinal, se é aceitável usar violência como reação a um soldado ou mercenário corporativo invadindo sua casa para despejar, prender ou matar você, por que não usar violência contra o general ou diretor empresarial que os mandou?
Eu acredito que a auto-defesa é um direito inato de todos os seres vivos, e também acredito que a conceitualização ou adoção de um pacifismo total só é possível numa sociedade colonizada e estatizada, que já foi ensinada a aceitar a idéia de uma cidadania passiva e a legitimação da violência autoritária. Por outro lado, acho que a violência é errada, que machucar alguém, mesmo o maior filho da puta corporativo, é em algum nível causa para tristeza, mesmo que eles estejam recebendo o que merecem. Para os anarquistas, a violência é, ou deveria ser, problemática num nível tático também. Toda violência tem um elemento autoritário. Isso é quase invisível nas ações de quem está em desvantagem, até o ponto em que os papéis se revertem, e o perdedor se torna vitorioso. Se a violência foi usada para alcançar a vitória, será ela necessária para preservar a vitória?
Parte da razão pela qual não pude articular meu desconforto e refutar o que meu amigo dizia é que eu quase concordava com ele. Afinal, no dia anterior eu ri alto quando li sobre os dois guardas de detenção de Woomera que foram espancados por anarquistas mascarados libertando alguns dos prisioneiros que buscavam asilo no país. Sob um certo aspecto é triste pensar nisso: um pobre e tolo robô que "só fazia seu trabalho", com a mandíbula quebrada, joelho esmagado, nariz ensangüentado, imaginando que diabos havia acontecido - não estaria ele protegendo seu país; fazendo o que lhe foi ensinado que era o certo a fazer? Mas em outro nível, mais óbvio, é incrívelmente satisfatório pensar que não só algumas pessoas que estavam presas agora estão livres, mas também que alguns "porcos" provaram o gosto da violência que exercem todos os dias.
O caso dos guardas de detenção parece bem claro. Eles estavam usando violência para aprisionar pessoas, então alguns anarquistas usaram violência - não gratuitamente, só o que foi necessário - para libertar algumas dessas pessoas. Podemos chamar isso de um ato de violência justificável, e mesmo agora já não estamos lidando com auto-defesa direta, mas com violência usada para a defesa do outro. Seria também justificável usar a violência para deter os que fazem política, eleitos e nomeados para o cargo, que mandaram os que pediam asilo para a prisão? E quanto aos diretores das corporações que construíram a prisão, ou fabricaram as armas e outras ferramentas usadas pelos guardas? Certamente parece justificável - não seria justo deixar os brutamontes na linha de frente levarem todo o fogo. Se os políticos e diretores empresariais estão levando a guerra para nossos lares, e aos lares de pessoas no hemisfério Sul, não seria justificado levar a guerra aos seus lares? O problema é que isso seria justificável. Em um sistema global de injustiça e violência onipresentes, você pode continuar mudando os limites do que é justificável até que você chega num ponto quase Leninista de extermínio programado de todos os "contra-revolucionários".
Quando percebi e aceitei isso, eu finalmente tinha uma resposta para meu amigo. A questão não é onde traçamos o limite que define a violência "justificável", mas que estejamos traçando um limite pra começar. Todo o sistema global está nos atacando, matando pessoas, destruindo o planeta, e a idéia de auto-defesa, quando usada em um nível racional, pode ser usada para justificar violência contra quase todos que trabalham dentro do sistema. A principal questão é que a violência chega em seu ponto mais cruel quando é um ato racional - estatismo, a ciência ocidental, pena de morte, e regimes ditatoriais nos demonstraram esse princípio. Quando estabelecemos as conexões de alguém a vários mecanismos corporativos ou governamentais de assassinato e ecocídio, ao tentar decidir se são um alvo justificável para atos de auto-defesa, nós tiramos deles toda sua humanidade, toda sua essência como seres vivos e os transformamos em funcionários do poder. A maior violência acontece em nossas mentes, num nível metafísico, quando tornamos em trivial a dor que podemos causar justificando-a e ignorando-a de antemão.
Se alguém me ataca, pronto para me matar ou aprisionar, eu não preciso relacioná-los com um sistema maior de violência, e não preciso chegar a uma conclusão racional de se me defender usando a força seria justificável. Se a situação fica preta, todas as cartas são postas na mesa e as pretensões democráticas de nosso governo civil são deixadas de lado num momento revolucionário, então todos sabem qual é seu posicionamento, eu não preciso construir uma justificativa para mim mesmo de que a elite e seus capangas vão usar violência contra mim se eu permitir. Auto-defesa é um pressentimento instintivo e usá-lo racionalmente para decidir quando a violência é ou não justificável é sedar nossos instintos e colocar a vida, a morte e a dor numa esfera onde eles não podem ser devidamente valorizados.
Corporações e governos estão matando pessoas todos os dias. Existe um clima de guerra desenfreada pelo planeta. Nós devemos lutar e resistir. Eu reconheço a possível necessidade de usar a violência, machucar alguém, para libertar a mim mesmo e a outros. Mas deve ser um ato de paixão. Não devo reprimir a possibilidade de sentir culpa com um ato calculado e bem executado. Se na pior das hipóteses, você deva matar alguém, você deve ao menos respeitá-los e permitir-se chorar pelo que fez. E se você não sente nenhuma compaixão, pelo que exatamente você está lutando?


- um amigo da Anarquia Verde

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Sociedade

Sociedade. Do latim socius, Companhia. 1. Uma congregação organizada de indivíduos e grupos relacionados. 2. Aparato totalizador, avançando as custas do indivíduo, da natureza e da solidariedade humana.

A sociedade em todos os lugares esta sendo impulsionada pela rotina do trabalho e consumo. Este movimento cego e induzido, tão distante de um estado companheirismo, não toma lugar sem agonia e desafeto. O "ter mais" nunca compensa o "ser menos", como prova o aumento do vício em drogas, trabalho, exercício, sexo, etc. Virtualmente qualquer coisa pode ser e é usada excessivamente em busca de satisfação numa sociedade em que sua característica é a negação da satisfação. Mas tal excesso ao menos fornece a evidencia do desejo por realização, o que é, uma imensa insatisfação com o que esta diante de nós.

Os charlatões fornecem todo tipo de escapismo, por exemplo. A panacéia New Age, um repugnante misticismo materialista em escala massiva: fraco e pensativo, aparentemente incapaz de investigar qualquer parte da realidade com coragem ou honestidade. Para os praticantes da New Age, psicologia não é nada mais do que uma ideologia e sociedade é irrelevante.

Entretanto, Bush (provavelmente Bush pai, N.do T.), avalia: "gerações nascendo entorpecidas no desespero", foi previsivelmente o suficiente asqueroso para culpar as vítimas citando seus "vazios de moral". A profundidade da estado de miséria deve ser melhor refletido pela informação federal divulgada em 19/09/91, sobre estudantes do ensino superior, que foi descoberto que ao menos 27% dos estudantes "pensaram seriamente" sobre suicídio no ano anterior.

Poderia ser que o social, com sua crescente evidência da alienação - depressão em massa, a recusa da alfabetização, o aumento das desordens psíquicas, etc. - deveria ser finalmente ser registrado politicamente. Tal fenômeno como o contínuo declínio da participação eleitoral (nos EUA o voto é facultativo) e a profunda descrença no governo levou a Kettering Foundation, em junho de 1991, a concluir que "a legitimidade de nossas instituições políticas é mais problemática do que nossos lideres imaginam", e em outubro do mesmo ano, um estudo de três estados (como noticiou o colunista Tom Wicker em 14/10/91) levou a perceber "um perigoso abismo entre os governantes e os governados".

O desejo por uma vida e por um mundo não-mutilado no qual viver colide com um fato deprimente: é fundamental para o progresso da sociedade moderna a necessidade capitalista insaciável por crescimento e expansão. O colapso do capitalismo de estado na Europa Oriental e na União Soviética, deixou apenas a variedade "triunfante" do mesmo, no comando, mas agora confrontado insistentemente com contradições muito mais sérias do que as que supostamente venceu em sua pseudo-luta contra o "socialismo". Obviamente, o industrialismo soviético não foi qualitativamente diferente do que qualquer variante do capitalismo, e ainda mais importante, nenhum sistema de produção (divisão de trabalho, dominação da natureza, e escravismo trabalhe e pague em maiores ou menores doses) pode permitir a felicidade humana ou a sobrevivência ecológica.

Podemos ver agora uma vista aproximada de todo o mundo como um moribundo tóxico e sem ozônio. Quando uma vez a maioria das pessoas procuravam a tecnologia como uma promessa, agora sabemos com certeza que isto nos matará. Computadorização, com seu tédio congelado e veneno dissimulado, expressa a trajetória da sociedade, estruturada elegantemente aparte da existência sensual e encontrando sua apoteose atual na Realidade Virtual.

O escapismo da Realidade Virtual não é o maior problema, quem de nós poderia prosseguir sem escapes? Do mesmo modo, isto não é tanto uma diversão da consciência como é uma consciência de completo distanciamento do mundo natural. A Realidade virtual testemunha uma profunda patologia,
recordando as telas barrocas de Rubens que mostram cavalheiros com armaduras rodeados, porém separados, de mulheres nuas. Aqui os tecnojunkies "alternativos" da Whole Earth Review, promotores pioneiros da Realidade Virtual, mostram suas verdadeiras cores. Um fetiche de "ferramentas", e uma total carência de interesse em criticar as direções da sociedade, direcionados a glorificação do paraíso artificial da Realidade Virtual.

O vazio consumista da simulação e manipulação de alta tecnologia deve seu domínio a duas tendências crescentes na sociedade, especialização do trabalho e o isolamento de indivíduos. Deste contexto emerge o mais terrível aspecto do mal: isto tende a ser comprometido por pessoas que não são particularmente más. A sociedade, que de nenhuma maneira poderia sobreviver a uma inspeção de consciência é preparada para prevenir tal inspeção.

As idéias dominantes e opressivas não permeiam totalmente a sociedade, ao invés, seu sucesso é garantido pela natureza fragmentada da oposição e elas. Entretanto, o que a sociedade teme mais é precisamente as mentiras que suspeitam sobre as quais ela esteja construída. Este medo ou recusa é obviamente não o mesmo como começa a expor uma força mortal de circunstâncias para as forças dos eventos.

Adorno notou na década de 1960 que a sociedade está crescendo mais e mais enganosa e incapacitada. Ele previu que as discussões eventuais das causas da sociedade poderia se tornar insignificantes: a própria sociedade é a causa. A luta por uma sociedade - se ainda pode ser chamada de sociedade - face-a-face, em e do mundo natural, deve ser baseada num entendimento da sociedade hoje como uma marcha fúnebre monolítica e expansiva.

TexTo dE: Jonh Zerzan

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


AÇÃO DIRETA pode ser definida como qualquer ação que trata diretamente de uma questão, fazendo uma diferença física no mundo, no e do mundo, desconsiderando a percepção dos outros sobre isso. Seu efeito fundamental é causar uma mudança real no mundo físico - e isso pode ou não mudar o mundo mental dos outros. (Exemplo: Se você alimentar uma pessoa faminta, você estará diretamente, fisicamente causando uma mudança física no mundo - se dedicando a um interesse que você vê. Essa ação pode ou não acabar mudando a opinião de alguém sobre a questão - mas a questão foi tratada no mundo físico, mesmo que a mente das pessoas seja ou não mudada).

Lawrence Jarach propos uma explicação adicional útil em seu artigo "Instead of a Meeting":
"Esse termo (ação direta) se tornou distorcido e mal utilizado por vários ativistas políticos nos últimos 30 anos. Em seu significado anarquista original, o termo se refere a qualquer ação ocorrida sem permissão, e fora dos interesses de instituições governamentais. Significa se voluntariar ao Food Not Bombs, entrar em greve (principalmente sem a aprovação de um sindicato), expropriação, ou produzir uma estação de rádio livre. Não significa se engajar em desobediência civil com a cooperação da polícia; não significa romper com a lei ou quebrar uma vritrine se a intenção for meramente registrar uma desaprovação de alguma lei governamental. Destruir coisas podem ser exemplos de ações diretas - mas a intenção por detrás desses atos é o que é importante, e não os atos em si. A ação direta não tem nada a ver com pressionar qualquer parte de um governo para modificar uma lei; ela é, por definição, anti-estado. Tentar alterar uma diretriz governamental é chamado de lobbying; ele é direcionado aos representantes, e portanto, não pode ser chamado de ação direta. Apresentar uma lista de exigências ou protestar contra uma lei em particular, com a esperança de ser notado pelo estado (do qual os governantes de alguma forma irão mudar algo no modo que essa lei funciona), jamais é uma ação direta, mesmo se os meios utilizados para pressionar os governantes sejam ilegais. Ação direta é quando nós fazemos coisas para nós mesmos, sem pedir, perguntar ou exigir que alguma autoridade nos ajude."

Uma terceira e excelente descrição do significado da ação direta foi apresentada em um artigo chamado "(What could there possibly be) Beyond Democracy?" publicado na Harbinger #3, uma publicação lançada pela CrimethInc. Aqui está:

Autonomia significa ação direta, sem esperar por requerimentos para se passar pelos "canais estabelecidos" só para depois se atolar em papeladas burocráticas e negociações sem fim. Estabeleça seus próprios canais. Se você quer que pessoas famintas comam, não dê dinheiro para a caridade rica e burocrática; descubra aonde a comida está sendo desperdiçada, colete-a, e alimente essas pessoas. Se você quer uma casa própria acessível, não tente ir atrás da prefeitura da sua cidade para que seja feita uma lei - que demorará anos, enquanto pessoas dormem nas ruas todos as noites; ocupe prédios abandonados e divida-os, e organize grupos para defendê-los quando os capangas dos proprietários ausentes aparecerem. Se você quer que as corporações percam seu poder, não faça petições para que os políticos imponham limites em seus próprios mestres; descubra modos de trabalhar com outros para que simplesmente tome o poder deles: não compre seus produtos, não trabalhe para eles, sabote seus anúncios, propagandas e prédios; impeça que seus encontros aconteçam, e que seus produtos sejam produzidos ou entregue ao mercado. Eles usam táticas similares para exercerem poder sobre você; só parece válido porque eles compraram leis e hábitos sociais, também.
Não espere permissão ou organização de alguma autoridade de fora, não implore para um poder maior organizar sua vida para você. Aja.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Os três elementos essenciais da máquina

Examinando a Máquina mais de perto podemos distinguir três funções essenciais, três componentes da força de trabalho internacional e três negócios que a Máquina nos oferece.

As três funções podem ser caracterizadas assim:

informação: planejamento design, orientação, manejo, ciência, comunicação, política, produção de idéias, ideologias, religiões, arte, etc.; o cérebro coletivo e sistema nervoso da Máquina.

produção: criação industrial e agrícola de produtos, execução de planos, trabalho fragmentado, circulação de energia.

reprodução: produção e manutenção de trabalhadores tipo A, B e C através da produção de crianças, educação, trabalhos domésticos, serviços, entretenimento, sexo, recreação, cuidados médicos, etc.

Essas três funções são igualmente essenciais para o funcionamento da Máquina. Se uma delas falha, mais cedo ou mais tarde a Máquina pára. E para realizar essas três funções a Máquina criou três tipos de trabalhadores, divididos por seus níveis salariais, privilégios, educação, status social, etc.

A – Trabalhadores técnico-intelectuais pra países (ocidentais) industrialmente avançados: muito qualificados, na maioria brancos, homens e bem pagos. Um bom exemplo: engenheiros de computação.

B – Trabalhadores industriais e empregados em áreas não muito desindustrializadas, nos países em desenvolvimento e países socialistas: pouco ou muito mal pagos, homens ou mulheres, com amplas qualificações. Por exemplo, montadores de automóveis, montadoras de aparelhos eletrônicos (mulheres).

C – Trabalhadores flutuantes, oscilando entre pequenos períodos de plantio e colheita nos campos, prestadores de serviços, donas-de-casa, desempregados, criminosos, pivetes, todos sem rendimentos regulares. Na maioria mulheres e não-brancos dos cortiços metropolitanos ou do Terceiro Mundo, essas pessoas freqüentemente vivem no limite da inanição.

Todos estes tipos de trabalhadores estão presentes em todas as partes do mundo, só que em diferentes proporções. Mas é possível distinguir três zonas com uma proporção tipicamente alta dos respectivos tipos:

Trabalhadores A – em países (ocidentais) industrialmente adiantados, nos Estados Unidos, Europa, Japão.

Trabalhadores B – em países socialistas ou em vias de industrialização: União Soviética, Polônia, Taiwan, etc.

Trabalhadores C – no Terceiro Mundo, em áreas agrícolas ou subdesenvolvidas, na África, Ásia e América do Sul, e em chiqueiros urbanos do mundo inteiro.

Os três Mundos estão presentes em toda parte. Na cidade de Nova York existem bairros que podem ser considerados parte do Terceiro Mundo. No Brasil existem importantes áreas industriais. Em países socialistas existem representantes perfeitos do tipo A. Mas ainda assim resta uma acentuada diferença entre os Estados Unidos e a Bolívia, entre a Suécia e o Laos, e por aí afora.

O poder da Máquina, seu mecanismo de controle, é baseado no estímulo à luta entre os diferentes tipos de trabalhadores. Altos salários e privilégios são garantidos não porque a Máquina prefira determinado tipo de trabalhador, mas porque a estratificação social é usada para a manutenção do sistema como um todo. Os três tipos de trabalhadores aprendem a ter medo uns dos outros. São divididos por preconceitos, racismo, ciúmes, ideologias políticas, interesses econômicos. Os trabalhadores A e B têm medo de perder seu alto padrão de vida, seus carros, suas casas, seus empregos. Ao mesmo tempo, eles se queixam constantemente de stress e ansiedade, e invejam os comparativamente ociosos Trabalhadores C. Estes, em troca, sonham com bens de consumo, empregos estáveis e o que eles vêem como uma vida fácil. E todas essas divisões são exploradas de vários modos pela Máquina.

A Máquina nem precisa mais de uma classe dominante especial para manter seu poder. Capitalistas privados, burgueses, aristocratas, todos os chefes são meros excessos, sem nenhuma influência decisiva na execução material do poder. A Máquina pode prosseguir sem capitalistas e proprietários, a exemplo dos países socialistas e das empresas estatais do Ocidente. Esses relativamente raros tubarões não são o problema real. Os verdadeiros órgãos opressores da Máquina são todos controlados pelos próprios trabalhadores: guardas, soldados, burocratas. Somos sempre postos em confronto com metamorfoses convenientes da nossa própria espécie.

A Máquina Planetária do Trabalho é um mecanismo que consiste de pessoas postas umas contra as outras; todos nós garantimos seu funcionamento. Então, uma questão urgente é a seguinte: por que a gente topa? Por que a gente aceita viver um tipo de vida de que obviamente não gosta? Quais são as vantagens que nos fazem suportar o nosso descontentamento?


BoLo'BoLo

É hora de desorganizar!

Se existe algo que é a falha da esquerda, particularmente as uniões (de sindicatos a outras organizações trabalhistas), é que qualquer teoria "revolucionária" que não questiona os elementos chaves da civilização, não está fazendo nada mais do que mudar a ordem social para uma versão levemente "modificada". Isto se eles trabalharem para isso. Não podemos mais procurar por qualquer tipo de reforma para por um fim a máquina de morte que é a civilização. Por longo tempo tem havido uma idéia incrustada nas calhas revolucionárias de que sucesso requer organização. O envelhecido chamado dos membros do IWW(Trabalhadores Industriais do Mundo) " é hora de organizar!" está soando abafado assim como a esquerda está sendo moída nas paginas dos movimentos sociais falecidos da História Radical.
O que o nosso passado de "organização" têm nos trazido? Podemos dizer que tem nos trazido alguns sucessos porque aqueles que estão no topo da nova hierarquia social criada nos dizem que temos sucesso.
A organização nos empurra de volta a mesma hierarquia que nós estamos tentando nos rebelar e apagar. O que a organização irá nos trazer? Adeus velho líder, olá para o novo, alguma diferença? Talvez possa ser um humilde verde (ou vermelho, mais possivelmente), mas ainda é a mesma ordem social, a qual geralmente é inquestionada sobre o destrutivo modo de vida civilizado. Mas, mesmo numa breve permanência, eles não nos oferecem nada mais do que arrumar antecipadamente novos lideres para nos dizer como e quando agir e como e quando teremos vencido. Isto não está nos levando a lugar algum. Aos poucos, os jogos reformistas da esquerda consistem de muita conversa e nada de ação. Reuniões de "consenso" mantidas por de traz de portas fechadas, com delegados escolhidos e pré-determinados vão planejar as linhas diretrizes de quantas reformas as massas irão apoiar.
Não temos escolhas a respeito disso e não percebemos a realidade dupla daqueles que se dispõem de retóricas vazias. Isto não tem nos levado e não nos levará a lugar algum.

Se realmente desejarmos por um fim a ordem social civilizada, apenas poderemos fazer isto decretando insurgência e revolta por meios que não sustentam os aspectos da atual ordem social, ou que nos leve para um sistema que reflete este. A única esperança que temos é por atos espontâneos de revolta que vêm das paixões e fúrias dos indivíduos. Nenhuma ordem superior ou "planos de ação" poderá acordar a insurgência que está abafada pela totalidade do pensamento civilizado.

A única próspera e verdadeira revolução não será conduzida por jogos pré-determinados de trocas de favores, marchas pacíficas e cartazes, e especialmente novas hierarquias. A revolução virá dos corações daqueles que carregam o choque da civilização ( todos nós, incluindo os não-humanos). Aqueles cujos sonhos estão perturbados, aqueles cuja vontade nunca vive plenamente, libertados da totalidade das cavernas civilizadas de concreto, na qual estamos nascendo. Aqueles que têm sido interrompidos ao nascer do direito inato de florescer como individuo e de uma comunidade, e da comunhão com a natureza, que poderia oferecer mais amor do que podemos imaginar em nossa condição oprimida. As falhas de todas as hierarquias estão se tornando claras diariamente. O constante colapso da ordem social a partir de sua extrema arrogância ira se desenvolver mais até achar seu ponto catalisador. A insurgência está aumentando, e a civilização está caindo. Dê a civilização seu empurrão final usando suas próprias palavras e ações. Quebrando o feitiço da ordem civilizada é a única maneira de acabar com o Leviatã, e a cada dia está nos aproximando.

TexTo dE:Kevin Tucker

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Entrevista com Paul Shepard, por Derrick Jensen



Derrick Jensen: Se a destruição do mundo natural não esta nos fazendo felizes, por que estamos fazendo isso?

Paul shepard: Todo ano, durante trinta e cinco anos, começo o curso com esta questão, e ainda não tenho qualquer resposta. Mas posso lhe dizer as duas principais direções que meus pensamentos têm me levado. A primeira é que as experiências históricas com o ambiente natural condiciona nossas reações a isto e nossas idéias sobre isto. Quais são os antecedente culturais e ecológicos das atitudes e idéias ocidentais? Uma é a nossa crença em um mundo futuro que será melhor que o atual; outro é a "necessidade" de dominar a natureza, uma terceira é aquela aguda divisão entre humano e o não humano, entre o espiritual e o corporal. Estas crenças emergem de um legado de destruição catastróficas por povos que nós hoje identificamos como Sumérios, Mesopotaneos, Indo-europeus, Hebreus, Gregos e Romanos. Suas idéias sobre eles mesmos se formaram em um lugar onde o solo foi exaurido, as florestas já tinham sido sériamente prejudicadas, e o ambiente foi cada vez mais sujeito a secas, inundações e surtos de pestes. Se o mundo onde a vida é deteriorada, empobrecida, insustentável, parece estar esgotada e não oferece esperança nem conexões, a esperança de alguém poderia ser colocada em outra vida ou em outro mundo. Se a Terra não tem sido nutrida, como tem acontecido atualmente na África e em muitas outras partes do planeta, onde há mais pessoas e recursos insuficientes, não há razão para que alguém devesse se preocupar em sustentar a Terra. O ciclo de desespero, rejeição e abuso do planeta se alimenta em si mesmo.
Minha segunda direção parte do processo de desenvolvimento pessoal. Tudo que sabemos sobre as primeiras experiências individuais na vida tende a sugerir que muito do que pensamos , sabemos e como entendemos, já foi sido determinado para nós pelo tempo quando ainda tinhamos dez anos. Somos profundamente comprometidos psicológicamente exatamente no inicio da vida. Então é depois que nossos conceitos e idéias adultas articulam estas primeiras experiências, Dando lógica aos motivos que percorrem por baixo de nossa consciência. A questão para qual procuro uma resposta preliminar em Nature and Madness vem a ser: O que podemos identificar como sendo a característica do início da infância no mundo ocidental que nos levaria como adultos a perceber o mundo natural como hostil para nós mesmos, como algo que requer controle e dominação, algo a ser temido, e como algo que rejeitamos por algum mundo mítico que é melhor que este?
Outra maneira de perguntar isto é: Como as crianças crescem de forma diferente em sociedades de pequenas escalas, e que não são altamente desenvolvidas tecnológicamente, particularmente as sociedades primitivas na qual estamos cercando, como oposto ao modo que elas crescem em sociedade pastoris, de agricultura altamente desenvolvida ou urbanas?
Quais as diferenças entre a criança civilizada e a tribal se levantam e que expressa uma predisposição da criança civilizada a ser mais temerosa e controladora do seu mundo quando adultas?
Estas duas linhas de pensamento vem juntas. Se os povos no vale dos rios Tigre e Eufrates, e na "terra sagrada" das religiões mundiais, viveram em uma crescente superpopulação, num mundo perigoso, ameaçador e empobrecido, isto teria afetado a maneira que cresciam suas crianças e as marcas de crianças nas emoções adultas. Somando isto ao fato de que a vida pastoril cria um senso de alienação do mundo natural que é até mesmo mais extremo do que dos povos agricultores, possivelmente mais que os povos urbanos. O terror criado pelas culturas eqüestres distorceu o modo na qual as crianças cresciam e no modo como o homem e a mulher se relacionavam. Os eqüestres criaram um traumático senso de condenação.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Contra a Paralisia de Nossas Capacidades - Contra a Escola

Escola: um lugar onde a vontade de aprender e ensinar dos individuos são usurpadas para os objetivos de dominação do sistema.
A escola é o espaço físico onde os indivíduos não só são preparados para o trabalho, mas são também preparados para aceitar o trabalho e ver o mundo de acordo com a ordem dominante. Nestes centros de domesticação, a necessidade e a vontade natural dos indivíduos em querer aprender, investigar e a compartilhar conhecimentos é alienada, violentada, controlada, reprimida, governada e manipulada. Não é de se estranhar que governos atualmente obriguem os pais a colocarem seus filhos em escolas. Onde mais fariam as pessoas aprenderem desde cedo a obedecer, cumprir tarefas e prazos, aceitar a hierarquia e a autoridade? Acorde cedo, esteja no horário certo, vista seu uniforme, aguarde o sinal, memorize seu número de chamada, entregue o trabalho, se comporte para não acabar na diretoria. Professora, posso ir ao banheiro?
Nossa infância e juventude e a de nossos filhos são arruinados em lugares como este. Mesmo em uma "escola livre" a situação ainda está sob controle, ainda é um lugar com horários e datas para separarem o aprender e ensinar dos outros aspectos e momentos da vida. A "escola livre" ainda colabora com a fragmentação da vida. O que queremos é uma vida íntegra e fluída, e não fragmentada. Devemos experimentar novas maneiras livres e igualitárias de compartilharmos o conhecimento da experiência humana, experimentar maneiras que não reproduzem nenhum tipo de dominação.

O ato insurrecional e a auto-organização da luta Sasha K.


1. Contra organizações permanentes: as organizações permanentes tendem a seguir uma lógica própria - uma lógica que supera a da insurreição. Precisamos apenas olhar para as operações de grupos autoritários, Leninistas ou organizações esquerdistas, ativistas, para vermos isto em funcionamento. Normalmente tem tudo haver com construir o grupo, recrutando acima de tudo - a permanência torna-se o objetivo primário. O poder é separado daqueles ativos em luta e torna-se instituído na organização. O organizador torna-se separado dos organizados, e tende a desempenhar o papel de disciplinar e falar em nome da luta.

2. Contra a mediação com o poder: Na medida em que as organizações se tornam mais permanentes e se preocupam com o recrutamento, muitas vezes começam a preocupar-se com a sua imagem, e tentam limitar na luta as ações de outros que possam dar um mau nome ao movimento. Quanto mais poder instituem dentro da sua organização, mais tendem a limitar a ação direta de confronto e a encorajar o diálogo e a mediação. Ingenuamente, chegam a querer arrear o poder de uma massa de corpos, de modo a obterem um lugar na mesa do poder. Este processo está em forte funcionamento no movimento anti-globalização; organizações maiores estão tentando cada vez mais mediar com o poder. É também este o papel dos sindicatos na sociedade. Para os anarquistas, é claro, sendo contra o capitalismo e o estado no seu todo, não pode haver diálogo com o poder instituído. A vontade do poder de iniciar um diálogo pode ser um sinal da sua fraqueza, mas é também o início da nossa derrota quando limitamos o nosso poder ativo para nos juntarmos a eles na discussão.

3. Formalidade e informalidade: as organizações formais separam as pessoas por papéis formais de organizadores e organizados. Os papeis de organizador e organizado, obviamente, espelham os próprios papéis sociais necessários
para a operação da sociedade que nós, como anarquistas, tentamos subverter. Além disso, a organização formal tende a separar a decisão do momento e da situação do próprio ato, separando a decisão da sua execução, e assim limitando a autonomia da ação. Ambas estas tendências rigidificam as relações sociais que são vitais para aqueles em luta. As organizações formais também muitas vezes tomam o papel de representação do “movimento”, deslocando a luta de social por natureza para política. Os anarquistas insurrecionais tendem a fomentar a organização informal porque reconhecem que nós, como anarquistas, somos parte
daqueles em luta, e não estamos fora e acima dos explorados
e excluídos, organizando-os politicamente.

4. A organização desenvolve-se a partir da luta, a luta não se desenvolve a partir da organização: a maioria das organizações formais tentam primeiro construir a organização, e depois organizar a luta ou “movimento”. Os anarquistas insurrecionais vêem isto ao contrário. A organização informal, baseada no grupo de afinidade, desenvolve-se a partir da luta. Os grupos de afinidade vão construindo ligações em luta e depois muitas vezes coordenam ações; mas, o nível da organização depende do nível da luta, não das exigências de uma organização formal.

5. Ação autônoma e solidariedade: os anarquistas insurrecionais reconhecem que as ações de indivíduos e grupos de afinidade são autônomas, que nenhuma organização deveria estar em posição de disciplinar a ação de outros. Mas a ação autônoma torna-se mais forte quando atuamos em solidariedade revolucionária com outros em luta. A solidariedade revolucionária é ativa e está em conflito com as estruturas de dominação; é a ação direta que estabelece uma ligação entre a luta de alguém e a de outros.
-- As lutas devem ser desenvolvidas, tanto a medio-prazo como a longo prazo. Estratégias claras são necessárias para permitir que diferentes métodos sejam usados de um modo coordenado e proveitoso.
-- Ação autônoma: a auto-gestão da luta significa que aqueles que lutam são autônomos nas suas decisões e ações; isto é o oposto de uma organização de síntese, que tenta constantemente tomar controle da luta. Lutas que são sintetizadas dentro de uma única organização controladora são facilmente integradas na estrutura de poder da sociedade
atual. Lutas auto-organizadas são, por natureza, incontroláveis quando se espalham pelo terreno social.

Traduzido e publicado pela ravidições em 2006

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

1. Os funcionários não funcionam. Os políticos falam mas não dizem. Os votantes votam mas não escolhem. Os meios de informação desinformam. Os centros de ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam as vítimas. Os militares estão em guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os. As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados. O dinheiro é mais livre que as pessoas. As pessoas estão a serviço das coisas.


2. Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto à humanidade quanto estes humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto à cultura do disfarce. Fala-se a dupla linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, outra moral para fazer.


3. Quem não banca o vivo, acaba morto. Você é obrigado a ser fodedor ou fodido, mentidor ou mentido. Tempos de o que me importa, de o que se há de fazer, do é melhor não se meter, do salve-se quem puder. Tempo dos trapaceiros: a produção não rende, a criação não serve, o trabalho não vale. No rio da Prata, chamamos o coração de bobo. E não porque se apaixona: o chamamos de bobo porque trabalha muito.

Eduardo Galeano