sexta-feira, 24 de julho de 2009

Somos em verdade uma raça de cegos e a geração seguinte, cega à sua própria cegueira, se assombrará com a nossa.


TexTo dE:
L.L. White

domingo, 19 de julho de 2009

Eu estou cansado de saber disso, mas a maioria não se convence que sem governo é melhor.
Desde criança sinto um eterno zumbido no ouvido de que o governo não presta.Hoje estou com perto de 50 anos e o zumbido de que o governo não presta aumentou.Que diabo! Uma coisa que não presta bota-se fora, não se deve aceitar!Mas aí quem poderia governar-se por si?Eu!... Eu mesmo podia me governar muito bem. Por que não?Ora essa! Então não sei me dirigir por mim mesmo?O governo fornece-me algumas muletas? Faltaria só isso! Não saber me governar! É o que venho fazendo há cinqüenta anos! Pois os animais se governam muito bem por si, quanto mais um de nós que tem mais recursos e mais fácil o pão.Vamos ser razoáveis. Sempre dispensei e dispensaria perfeitamente o governo.Nunca o consultei para nada, nem lhe solicitei ou recebi dele qualquer favor ou benefício.O governo, o Estado, é que não procede reciprocamente comigo.Mete-se em todos os meus negócios, atrapalha-me de todo jeito, quer saber quanto ganho, o que faço, de que vivo, e tira de mim o lucro do meu trabalho em licenças e impostos, em nome de instituições que eu não conheço, deixando-me só o que preciso para não pedir esmola.Posso eu sozinho me opor à vontade do governo?? Não!? E por quê?Impele-me pela força armada. Aí é que está.Mas não digam que não saberia conduzir-me sem governo. Não sou só eu que não quero, somos todos.Por que é que se formam partidos políticos de todas as cores? Não é para combater o governo? Aliança Liberal, o Partido Democrático, o Partido Católico, o Partido Socialista, o Partido Comunista e Cia., não são ou foram contra o governo? O governo não presta.Como vedes não é só o anarquista que não quer governo, somos nós todos. Vamos então ser sinceros: quem é que gosta de ser governado? Além de tudo, o governo é um ente escravo de si mesmo, e quais garantias têm os governantes? As mesmas dos governados. O pau que dá no Chico dá na Joana! O governo é uma coisa tão absurda que não garante nem a si.Tudo é questão de palavras. Estou convencido de que todos querem o mesmo que eu quero, só que à maioria falta a coragem de assumir a responsabilidade das próprias convicções e perder o amor aos privilégios adquiridos e nada mais.Mas que o governo garanta alguma coisa de perene e eterno, todos estão cansados (como nós) de saber que isso é mentira, que o governo não garante coisa nenhuma, pois até ele é provisório e passageiro como uma estrela errante.Por isso digo-vos: o governo não presta! E com igual razão os da última moda: bolchevista ou comunista, fascista ou socialista. Os nomes pouco importam. É que constituem um só conteúdo, uma coisa só: governo (ou desgoverno) e sempre pela força.
ArmandinhoTexto publicado no periódico A Plebe, abril de 1933

domingo, 12 de julho de 2009

A Mesa

já que estamos aqui
todos nos
reunidos em torno desta mesa
por que não tocamos a nos mesmos
com todos os nossos orgãos sexuais?

(nossa boca, nossos dedos
nossos mamilos, nossos penis,
nossa vagina, nosso ânus,
nossos anos, nossos olhos,
nossos ossos?)

é porque não queremos
ou foi a mamãe
que nos disse que não?

já que estamos aqui
em volta desta mesa
por que não fazemos uma conspiração
para matar nossos pais
e depois tirar a roupa?
e por que aqui juntos
sentados nesta mesa
que pode ser uma esquina, uma
lanchonete, um
muro, uma escola
não aproveitamos nossa presença
e nos deseducamos?
(ai, brincaremos com coco
treparemos nos árvores
mexeremos nos nossos pintos
nas nossas xoxotas, faremos
poemas tortos, pularemos os
muros, falaremos errado
conjugaremos mal os verbos
veremos nossos pentelhos
crescerem ao vento juntos
com nossos seios
que são como a grama pontuda
brotando pela terra toda)

depois iremos à escola
não prá aprender o be-a-bá
nem que
M A R I A V I U A R O S A
pois o que viu maria
foi outra coisa

mas iremos prá libertar os professores
do guarda-pó
da lista de chamada
do saber do poder

e para fazermos uma grande algazarra
uma enorme farra
sobre a aritmética
sobre a gramática
já que estamos reunidos
em torno desta mesa
girando em torno do sol
por que não vamos revidar
todos os tapas, as palmadas
os castigos
e fazermos nossos pais
se revoltarem contra
o patrão, o padre, o presidente
o policial
e os edifícios da cidade?

reunidos em torno desta mesa
liberaríamos outro pobre adolescente
pregado na cruz
e que foi forçado a ter

o mais tirânico
o mais absoluto
o mais eterno
o mais opressor
de todos os pais

o pai supremo que nos vigia do céu
e dita ordens de existirmos
a nossa existência
que nos vigia no banheiro
quando nos masturbamos
e nos vigia na cama
quando trepamos

assim
tudo proposto
reunidos os esforços
sacudido o pó secular
feita a cabeça
nos aqui
em torno desta mesa

(para que a vida
antes de ser infância e
adolescência
doces
seja vida)

viraremos e destruiremos a mesa


PoeMa dE: Nicolau Flores