sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


AÇÃO DIRETA pode ser definida como qualquer ação que trata diretamente de uma questão, fazendo uma diferença física no mundo, no e do mundo, desconsiderando a percepção dos outros sobre isso. Seu efeito fundamental é causar uma mudança real no mundo físico - e isso pode ou não mudar o mundo mental dos outros. (Exemplo: Se você alimentar uma pessoa faminta, você estará diretamente, fisicamente causando uma mudança física no mundo - se dedicando a um interesse que você vê. Essa ação pode ou não acabar mudando a opinião de alguém sobre a questão - mas a questão foi tratada no mundo físico, mesmo que a mente das pessoas seja ou não mudada).

Lawrence Jarach propos uma explicação adicional útil em seu artigo "Instead of a Meeting":
"Esse termo (ação direta) se tornou distorcido e mal utilizado por vários ativistas políticos nos últimos 30 anos. Em seu significado anarquista original, o termo se refere a qualquer ação ocorrida sem permissão, e fora dos interesses de instituições governamentais. Significa se voluntariar ao Food Not Bombs, entrar em greve (principalmente sem a aprovação de um sindicato), expropriação, ou produzir uma estação de rádio livre. Não significa se engajar em desobediência civil com a cooperação da polícia; não significa romper com a lei ou quebrar uma vritrine se a intenção for meramente registrar uma desaprovação de alguma lei governamental. Destruir coisas podem ser exemplos de ações diretas - mas a intenção por detrás desses atos é o que é importante, e não os atos em si. A ação direta não tem nada a ver com pressionar qualquer parte de um governo para modificar uma lei; ela é, por definição, anti-estado. Tentar alterar uma diretriz governamental é chamado de lobbying; ele é direcionado aos representantes, e portanto, não pode ser chamado de ação direta. Apresentar uma lista de exigências ou protestar contra uma lei em particular, com a esperança de ser notado pelo estado (do qual os governantes de alguma forma irão mudar algo no modo que essa lei funciona), jamais é uma ação direta, mesmo se os meios utilizados para pressionar os governantes sejam ilegais. Ação direta é quando nós fazemos coisas para nós mesmos, sem pedir, perguntar ou exigir que alguma autoridade nos ajude."

Uma terceira e excelente descrição do significado da ação direta foi apresentada em um artigo chamado "(What could there possibly be) Beyond Democracy?" publicado na Harbinger #3, uma publicação lançada pela CrimethInc. Aqui está:

Autonomia significa ação direta, sem esperar por requerimentos para se passar pelos "canais estabelecidos" só para depois se atolar em papeladas burocráticas e negociações sem fim. Estabeleça seus próprios canais. Se você quer que pessoas famintas comam, não dê dinheiro para a caridade rica e burocrática; descubra aonde a comida está sendo desperdiçada, colete-a, e alimente essas pessoas. Se você quer uma casa própria acessível, não tente ir atrás da prefeitura da sua cidade para que seja feita uma lei - que demorará anos, enquanto pessoas dormem nas ruas todos as noites; ocupe prédios abandonados e divida-os, e organize grupos para defendê-los quando os capangas dos proprietários ausentes aparecerem. Se você quer que as corporações percam seu poder, não faça petições para que os políticos imponham limites em seus próprios mestres; descubra modos de trabalhar com outros para que simplesmente tome o poder deles: não compre seus produtos, não trabalhe para eles, sabote seus anúncios, propagandas e prédios; impeça que seus encontros aconteçam, e que seus produtos sejam produzidos ou entregue ao mercado. Eles usam táticas similares para exercerem poder sobre você; só parece válido porque eles compraram leis e hábitos sociais, também.
Não espere permissão ou organização de alguma autoridade de fora, não implore para um poder maior organizar sua vida para você. Aja.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Os três elementos essenciais da máquina

Examinando a Máquina mais de perto podemos distinguir três funções essenciais, três componentes da força de trabalho internacional e três negócios que a Máquina nos oferece.

As três funções podem ser caracterizadas assim:

informação: planejamento design, orientação, manejo, ciência, comunicação, política, produção de idéias, ideologias, religiões, arte, etc.; o cérebro coletivo e sistema nervoso da Máquina.

produção: criação industrial e agrícola de produtos, execução de planos, trabalho fragmentado, circulação de energia.

reprodução: produção e manutenção de trabalhadores tipo A, B e C através da produção de crianças, educação, trabalhos domésticos, serviços, entretenimento, sexo, recreação, cuidados médicos, etc.

Essas três funções são igualmente essenciais para o funcionamento da Máquina. Se uma delas falha, mais cedo ou mais tarde a Máquina pára. E para realizar essas três funções a Máquina criou três tipos de trabalhadores, divididos por seus níveis salariais, privilégios, educação, status social, etc.

A – Trabalhadores técnico-intelectuais pra países (ocidentais) industrialmente avançados: muito qualificados, na maioria brancos, homens e bem pagos. Um bom exemplo: engenheiros de computação.

B – Trabalhadores industriais e empregados em áreas não muito desindustrializadas, nos países em desenvolvimento e países socialistas: pouco ou muito mal pagos, homens ou mulheres, com amplas qualificações. Por exemplo, montadores de automóveis, montadoras de aparelhos eletrônicos (mulheres).

C – Trabalhadores flutuantes, oscilando entre pequenos períodos de plantio e colheita nos campos, prestadores de serviços, donas-de-casa, desempregados, criminosos, pivetes, todos sem rendimentos regulares. Na maioria mulheres e não-brancos dos cortiços metropolitanos ou do Terceiro Mundo, essas pessoas freqüentemente vivem no limite da inanição.

Todos estes tipos de trabalhadores estão presentes em todas as partes do mundo, só que em diferentes proporções. Mas é possível distinguir três zonas com uma proporção tipicamente alta dos respectivos tipos:

Trabalhadores A – em países (ocidentais) industrialmente adiantados, nos Estados Unidos, Europa, Japão.

Trabalhadores B – em países socialistas ou em vias de industrialização: União Soviética, Polônia, Taiwan, etc.

Trabalhadores C – no Terceiro Mundo, em áreas agrícolas ou subdesenvolvidas, na África, Ásia e América do Sul, e em chiqueiros urbanos do mundo inteiro.

Os três Mundos estão presentes em toda parte. Na cidade de Nova York existem bairros que podem ser considerados parte do Terceiro Mundo. No Brasil existem importantes áreas industriais. Em países socialistas existem representantes perfeitos do tipo A. Mas ainda assim resta uma acentuada diferença entre os Estados Unidos e a Bolívia, entre a Suécia e o Laos, e por aí afora.

O poder da Máquina, seu mecanismo de controle, é baseado no estímulo à luta entre os diferentes tipos de trabalhadores. Altos salários e privilégios são garantidos não porque a Máquina prefira determinado tipo de trabalhador, mas porque a estratificação social é usada para a manutenção do sistema como um todo. Os três tipos de trabalhadores aprendem a ter medo uns dos outros. São divididos por preconceitos, racismo, ciúmes, ideologias políticas, interesses econômicos. Os trabalhadores A e B têm medo de perder seu alto padrão de vida, seus carros, suas casas, seus empregos. Ao mesmo tempo, eles se queixam constantemente de stress e ansiedade, e invejam os comparativamente ociosos Trabalhadores C. Estes, em troca, sonham com bens de consumo, empregos estáveis e o que eles vêem como uma vida fácil. E todas essas divisões são exploradas de vários modos pela Máquina.

A Máquina nem precisa mais de uma classe dominante especial para manter seu poder. Capitalistas privados, burgueses, aristocratas, todos os chefes são meros excessos, sem nenhuma influência decisiva na execução material do poder. A Máquina pode prosseguir sem capitalistas e proprietários, a exemplo dos países socialistas e das empresas estatais do Ocidente. Esses relativamente raros tubarões não são o problema real. Os verdadeiros órgãos opressores da Máquina são todos controlados pelos próprios trabalhadores: guardas, soldados, burocratas. Somos sempre postos em confronto com metamorfoses convenientes da nossa própria espécie.

A Máquina Planetária do Trabalho é um mecanismo que consiste de pessoas postas umas contra as outras; todos nós garantimos seu funcionamento. Então, uma questão urgente é a seguinte: por que a gente topa? Por que a gente aceita viver um tipo de vida de que obviamente não gosta? Quais são as vantagens que nos fazem suportar o nosso descontentamento?


BoLo'BoLo

É hora de desorganizar!

Se existe algo que é a falha da esquerda, particularmente as uniões (de sindicatos a outras organizações trabalhistas), é que qualquer teoria "revolucionária" que não questiona os elementos chaves da civilização, não está fazendo nada mais do que mudar a ordem social para uma versão levemente "modificada". Isto se eles trabalharem para isso. Não podemos mais procurar por qualquer tipo de reforma para por um fim a máquina de morte que é a civilização. Por longo tempo tem havido uma idéia incrustada nas calhas revolucionárias de que sucesso requer organização. O envelhecido chamado dos membros do IWW(Trabalhadores Industriais do Mundo) " é hora de organizar!" está soando abafado assim como a esquerda está sendo moída nas paginas dos movimentos sociais falecidos da História Radical.
O que o nosso passado de "organização" têm nos trazido? Podemos dizer que tem nos trazido alguns sucessos porque aqueles que estão no topo da nova hierarquia social criada nos dizem que temos sucesso.
A organização nos empurra de volta a mesma hierarquia que nós estamos tentando nos rebelar e apagar. O que a organização irá nos trazer? Adeus velho líder, olá para o novo, alguma diferença? Talvez possa ser um humilde verde (ou vermelho, mais possivelmente), mas ainda é a mesma ordem social, a qual geralmente é inquestionada sobre o destrutivo modo de vida civilizado. Mas, mesmo numa breve permanência, eles não nos oferecem nada mais do que arrumar antecipadamente novos lideres para nos dizer como e quando agir e como e quando teremos vencido. Isto não está nos levando a lugar algum. Aos poucos, os jogos reformistas da esquerda consistem de muita conversa e nada de ação. Reuniões de "consenso" mantidas por de traz de portas fechadas, com delegados escolhidos e pré-determinados vão planejar as linhas diretrizes de quantas reformas as massas irão apoiar.
Não temos escolhas a respeito disso e não percebemos a realidade dupla daqueles que se dispõem de retóricas vazias. Isto não tem nos levado e não nos levará a lugar algum.

Se realmente desejarmos por um fim a ordem social civilizada, apenas poderemos fazer isto decretando insurgência e revolta por meios que não sustentam os aspectos da atual ordem social, ou que nos leve para um sistema que reflete este. A única esperança que temos é por atos espontâneos de revolta que vêm das paixões e fúrias dos indivíduos. Nenhuma ordem superior ou "planos de ação" poderá acordar a insurgência que está abafada pela totalidade do pensamento civilizado.

A única próspera e verdadeira revolução não será conduzida por jogos pré-determinados de trocas de favores, marchas pacíficas e cartazes, e especialmente novas hierarquias. A revolução virá dos corações daqueles que carregam o choque da civilização ( todos nós, incluindo os não-humanos). Aqueles cujos sonhos estão perturbados, aqueles cuja vontade nunca vive plenamente, libertados da totalidade das cavernas civilizadas de concreto, na qual estamos nascendo. Aqueles que têm sido interrompidos ao nascer do direito inato de florescer como individuo e de uma comunidade, e da comunhão com a natureza, que poderia oferecer mais amor do que podemos imaginar em nossa condição oprimida. As falhas de todas as hierarquias estão se tornando claras diariamente. O constante colapso da ordem social a partir de sua extrema arrogância ira se desenvolver mais até achar seu ponto catalisador. A insurgência está aumentando, e a civilização está caindo. Dê a civilização seu empurrão final usando suas próprias palavras e ações. Quebrando o feitiço da ordem civilizada é a única maneira de acabar com o Leviatã, e a cada dia está nos aproximando.

TexTo dE:Kevin Tucker

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Entrevista com Paul Shepard, por Derrick Jensen



Derrick Jensen: Se a destruição do mundo natural não esta nos fazendo felizes, por que estamos fazendo isso?

Paul shepard: Todo ano, durante trinta e cinco anos, começo o curso com esta questão, e ainda não tenho qualquer resposta. Mas posso lhe dizer as duas principais direções que meus pensamentos têm me levado. A primeira é que as experiências históricas com o ambiente natural condiciona nossas reações a isto e nossas idéias sobre isto. Quais são os antecedente culturais e ecológicos das atitudes e idéias ocidentais? Uma é a nossa crença em um mundo futuro que será melhor que o atual; outro é a "necessidade" de dominar a natureza, uma terceira é aquela aguda divisão entre humano e o não humano, entre o espiritual e o corporal. Estas crenças emergem de um legado de destruição catastróficas por povos que nós hoje identificamos como Sumérios, Mesopotaneos, Indo-europeus, Hebreus, Gregos e Romanos. Suas idéias sobre eles mesmos se formaram em um lugar onde o solo foi exaurido, as florestas já tinham sido sériamente prejudicadas, e o ambiente foi cada vez mais sujeito a secas, inundações e surtos de pestes. Se o mundo onde a vida é deteriorada, empobrecida, insustentável, parece estar esgotada e não oferece esperança nem conexões, a esperança de alguém poderia ser colocada em outra vida ou em outro mundo. Se a Terra não tem sido nutrida, como tem acontecido atualmente na África e em muitas outras partes do planeta, onde há mais pessoas e recursos insuficientes, não há razão para que alguém devesse se preocupar em sustentar a Terra. O ciclo de desespero, rejeição e abuso do planeta se alimenta em si mesmo.
Minha segunda direção parte do processo de desenvolvimento pessoal. Tudo que sabemos sobre as primeiras experiências individuais na vida tende a sugerir que muito do que pensamos , sabemos e como entendemos, já foi sido determinado para nós pelo tempo quando ainda tinhamos dez anos. Somos profundamente comprometidos psicológicamente exatamente no inicio da vida. Então é depois que nossos conceitos e idéias adultas articulam estas primeiras experiências, Dando lógica aos motivos que percorrem por baixo de nossa consciência. A questão para qual procuro uma resposta preliminar em Nature and Madness vem a ser: O que podemos identificar como sendo a característica do início da infância no mundo ocidental que nos levaria como adultos a perceber o mundo natural como hostil para nós mesmos, como algo que requer controle e dominação, algo a ser temido, e como algo que rejeitamos por algum mundo mítico que é melhor que este?
Outra maneira de perguntar isto é: Como as crianças crescem de forma diferente em sociedades de pequenas escalas, e que não são altamente desenvolvidas tecnológicamente, particularmente as sociedades primitivas na qual estamos cercando, como oposto ao modo que elas crescem em sociedade pastoris, de agricultura altamente desenvolvida ou urbanas?
Quais as diferenças entre a criança civilizada e a tribal se levantam e que expressa uma predisposição da criança civilizada a ser mais temerosa e controladora do seu mundo quando adultas?
Estas duas linhas de pensamento vem juntas. Se os povos no vale dos rios Tigre e Eufrates, e na "terra sagrada" das religiões mundiais, viveram em uma crescente superpopulação, num mundo perigoso, ameaçador e empobrecido, isto teria afetado a maneira que cresciam suas crianças e as marcas de crianças nas emoções adultas. Somando isto ao fato de que a vida pastoril cria um senso de alienação do mundo natural que é até mesmo mais extremo do que dos povos agricultores, possivelmente mais que os povos urbanos. O terror criado pelas culturas eqüestres distorceu o modo na qual as crianças cresciam e no modo como o homem e a mulher se relacionavam. Os eqüestres criaram um traumático senso de condenação.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Contra a Paralisia de Nossas Capacidades - Contra a Escola

Escola: um lugar onde a vontade de aprender e ensinar dos individuos são usurpadas para os objetivos de dominação do sistema.
A escola é o espaço físico onde os indivíduos não só são preparados para o trabalho, mas são também preparados para aceitar o trabalho e ver o mundo de acordo com a ordem dominante. Nestes centros de domesticação, a necessidade e a vontade natural dos indivíduos em querer aprender, investigar e a compartilhar conhecimentos é alienada, violentada, controlada, reprimida, governada e manipulada. Não é de se estranhar que governos atualmente obriguem os pais a colocarem seus filhos em escolas. Onde mais fariam as pessoas aprenderem desde cedo a obedecer, cumprir tarefas e prazos, aceitar a hierarquia e a autoridade? Acorde cedo, esteja no horário certo, vista seu uniforme, aguarde o sinal, memorize seu número de chamada, entregue o trabalho, se comporte para não acabar na diretoria. Professora, posso ir ao banheiro?
Nossa infância e juventude e a de nossos filhos são arruinados em lugares como este. Mesmo em uma "escola livre" a situação ainda está sob controle, ainda é um lugar com horários e datas para separarem o aprender e ensinar dos outros aspectos e momentos da vida. A "escola livre" ainda colabora com a fragmentação da vida. O que queremos é uma vida íntegra e fluída, e não fragmentada. Devemos experimentar novas maneiras livres e igualitárias de compartilharmos o conhecimento da experiência humana, experimentar maneiras que não reproduzem nenhum tipo de dominação.

O ato insurrecional e a auto-organização da luta Sasha K.


1. Contra organizações permanentes: as organizações permanentes tendem a seguir uma lógica própria - uma lógica que supera a da insurreição. Precisamos apenas olhar para as operações de grupos autoritários, Leninistas ou organizações esquerdistas, ativistas, para vermos isto em funcionamento. Normalmente tem tudo haver com construir o grupo, recrutando acima de tudo - a permanência torna-se o objetivo primário. O poder é separado daqueles ativos em luta e torna-se instituído na organização. O organizador torna-se separado dos organizados, e tende a desempenhar o papel de disciplinar e falar em nome da luta.

2. Contra a mediação com o poder: Na medida em que as organizações se tornam mais permanentes e se preocupam com o recrutamento, muitas vezes começam a preocupar-se com a sua imagem, e tentam limitar na luta as ações de outros que possam dar um mau nome ao movimento. Quanto mais poder instituem dentro da sua organização, mais tendem a limitar a ação direta de confronto e a encorajar o diálogo e a mediação. Ingenuamente, chegam a querer arrear o poder de uma massa de corpos, de modo a obterem um lugar na mesa do poder. Este processo está em forte funcionamento no movimento anti-globalização; organizações maiores estão tentando cada vez mais mediar com o poder. É também este o papel dos sindicatos na sociedade. Para os anarquistas, é claro, sendo contra o capitalismo e o estado no seu todo, não pode haver diálogo com o poder instituído. A vontade do poder de iniciar um diálogo pode ser um sinal da sua fraqueza, mas é também o início da nossa derrota quando limitamos o nosso poder ativo para nos juntarmos a eles na discussão.

3. Formalidade e informalidade: as organizações formais separam as pessoas por papéis formais de organizadores e organizados. Os papeis de organizador e organizado, obviamente, espelham os próprios papéis sociais necessários
para a operação da sociedade que nós, como anarquistas, tentamos subverter. Além disso, a organização formal tende a separar a decisão do momento e da situação do próprio ato, separando a decisão da sua execução, e assim limitando a autonomia da ação. Ambas estas tendências rigidificam as relações sociais que são vitais para aqueles em luta. As organizações formais também muitas vezes tomam o papel de representação do “movimento”, deslocando a luta de social por natureza para política. Os anarquistas insurrecionais tendem a fomentar a organização informal porque reconhecem que nós, como anarquistas, somos parte
daqueles em luta, e não estamos fora e acima dos explorados
e excluídos, organizando-os politicamente.

4. A organização desenvolve-se a partir da luta, a luta não se desenvolve a partir da organização: a maioria das organizações formais tentam primeiro construir a organização, e depois organizar a luta ou “movimento”. Os anarquistas insurrecionais vêem isto ao contrário. A organização informal, baseada no grupo de afinidade, desenvolve-se a partir da luta. Os grupos de afinidade vão construindo ligações em luta e depois muitas vezes coordenam ações; mas, o nível da organização depende do nível da luta, não das exigências de uma organização formal.

5. Ação autônoma e solidariedade: os anarquistas insurrecionais reconhecem que as ações de indivíduos e grupos de afinidade são autônomas, que nenhuma organização deveria estar em posição de disciplinar a ação de outros. Mas a ação autônoma torna-se mais forte quando atuamos em solidariedade revolucionária com outros em luta. A solidariedade revolucionária é ativa e está em conflito com as estruturas de dominação; é a ação direta que estabelece uma ligação entre a luta de alguém e a de outros.
-- As lutas devem ser desenvolvidas, tanto a medio-prazo como a longo prazo. Estratégias claras são necessárias para permitir que diferentes métodos sejam usados de um modo coordenado e proveitoso.
-- Ação autônoma: a auto-gestão da luta significa que aqueles que lutam são autônomos nas suas decisões e ações; isto é o oposto de uma organização de síntese, que tenta constantemente tomar controle da luta. Lutas que são sintetizadas dentro de uma única organização controladora são facilmente integradas na estrutura de poder da sociedade
atual. Lutas auto-organizadas são, por natureza, incontroláveis quando se espalham pelo terreno social.

Traduzido e publicado pela ravidições em 2006

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

1. Os funcionários não funcionam. Os políticos falam mas não dizem. Os votantes votam mas não escolhem. Os meios de informação desinformam. Os centros de ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam as vítimas. Os militares estão em guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os. As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados. O dinheiro é mais livre que as pessoas. As pessoas estão a serviço das coisas.


2. Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto à humanidade quanto estes humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto à cultura do disfarce. Fala-se a dupla linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, outra moral para fazer.


3. Quem não banca o vivo, acaba morto. Você é obrigado a ser fodedor ou fodido, mentidor ou mentido. Tempos de o que me importa, de o que se há de fazer, do é melhor não se meter, do salve-se quem puder. Tempo dos trapaceiros: a produção não rende, a criação não serve, o trabalho não vale. No rio da Prata, chamamos o coração de bobo. E não porque se apaixona: o chamamos de bobo porque trabalha muito.

Eduardo Galeano