segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O ato insurrecional e a auto-organização da luta Sasha K.


1. Contra organizações permanentes: as organizações permanentes tendem a seguir uma lógica própria - uma lógica que supera a da insurreição. Precisamos apenas olhar para as operações de grupos autoritários, Leninistas ou organizações esquerdistas, ativistas, para vermos isto em funcionamento. Normalmente tem tudo haver com construir o grupo, recrutando acima de tudo - a permanência torna-se o objetivo primário. O poder é separado daqueles ativos em luta e torna-se instituído na organização. O organizador torna-se separado dos organizados, e tende a desempenhar o papel de disciplinar e falar em nome da luta.

2. Contra a mediação com o poder: Na medida em que as organizações se tornam mais permanentes e se preocupam com o recrutamento, muitas vezes começam a preocupar-se com a sua imagem, e tentam limitar na luta as ações de outros que possam dar um mau nome ao movimento. Quanto mais poder instituem dentro da sua organização, mais tendem a limitar a ação direta de confronto e a encorajar o diálogo e a mediação. Ingenuamente, chegam a querer arrear o poder de uma massa de corpos, de modo a obterem um lugar na mesa do poder. Este processo está em forte funcionamento no movimento anti-globalização; organizações maiores estão tentando cada vez mais mediar com o poder. É também este o papel dos sindicatos na sociedade. Para os anarquistas, é claro, sendo contra o capitalismo e o estado no seu todo, não pode haver diálogo com o poder instituído. A vontade do poder de iniciar um diálogo pode ser um sinal da sua fraqueza, mas é também o início da nossa derrota quando limitamos o nosso poder ativo para nos juntarmos a eles na discussão.

3. Formalidade e informalidade: as organizações formais separam as pessoas por papéis formais de organizadores e organizados. Os papeis de organizador e organizado, obviamente, espelham os próprios papéis sociais necessários
para a operação da sociedade que nós, como anarquistas, tentamos subverter. Além disso, a organização formal tende a separar a decisão do momento e da situação do próprio ato, separando a decisão da sua execução, e assim limitando a autonomia da ação. Ambas estas tendências rigidificam as relações sociais que são vitais para aqueles em luta. As organizações formais também muitas vezes tomam o papel de representação do “movimento”, deslocando a luta de social por natureza para política. Os anarquistas insurrecionais tendem a fomentar a organização informal porque reconhecem que nós, como anarquistas, somos parte
daqueles em luta, e não estamos fora e acima dos explorados
e excluídos, organizando-os politicamente.

4. A organização desenvolve-se a partir da luta, a luta não se desenvolve a partir da organização: a maioria das organizações formais tentam primeiro construir a organização, e depois organizar a luta ou “movimento”. Os anarquistas insurrecionais vêem isto ao contrário. A organização informal, baseada no grupo de afinidade, desenvolve-se a partir da luta. Os grupos de afinidade vão construindo ligações em luta e depois muitas vezes coordenam ações; mas, o nível da organização depende do nível da luta, não das exigências de uma organização formal.

5. Ação autônoma e solidariedade: os anarquistas insurrecionais reconhecem que as ações de indivíduos e grupos de afinidade são autônomas, que nenhuma organização deveria estar em posição de disciplinar a ação de outros. Mas a ação autônoma torna-se mais forte quando atuamos em solidariedade revolucionária com outros em luta. A solidariedade revolucionária é ativa e está em conflito com as estruturas de dominação; é a ação direta que estabelece uma ligação entre a luta de alguém e a de outros.
-- As lutas devem ser desenvolvidas, tanto a medio-prazo como a longo prazo. Estratégias claras são necessárias para permitir que diferentes métodos sejam usados de um modo coordenado e proveitoso.
-- Ação autônoma: a auto-gestão da luta significa que aqueles que lutam são autônomos nas suas decisões e ações; isto é o oposto de uma organização de síntese, que tenta constantemente tomar controle da luta. Lutas que são sintetizadas dentro de uma única organização controladora são facilmente integradas na estrutura de poder da sociedade
atual. Lutas auto-organizadas são, por natureza, incontroláveis quando se espalham pelo terreno social.

Traduzido e publicado pela ravidições em 2006

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