domingo, 31 de maio de 2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Progresso

pro-gres-so: (arcaico) percurso oficial, guiado por regras. 2. desenvolvimento histórico no sentido do avanço ou aperfeiçoamento. 3. marcha, percurso adiantado da história ou civilização, como num show de horror ou uma viagem mortal. 

Talvez nenhuma idéia na civilização ocidental tem sido tão importante quanto à noção de progresso, como Robert Nisbet colocou, “tudo agora sugere que a fé ocidental no dogma do progresso esta decaindo rapidamente em todos os níveis e esferas neste final do século XX". 
No mileu anti-autoritarismo, também, progresso caiu em tempos difíceis. Houve um tempo em que os lideres sindicais,como seus companheiros próximos marxistas, poderiam mais ou menos discursar com sucesso por mais marginal e insignificante, os desinteressados em organizar suas alienações através de uniões, conselhos e similares. Ao invés do tradicional respeito pela produtividade e produção (pilares do progresso) um conceito ludita sobre as fabricas esta crescendo e o anti-trabalho um ponto de partida fundamental para o dialogo radical. Até mesmo vemos alguns tomando gato por lebre: os trabalhadores industriais do mundo presos pela segunda palavra (industrial) poderiam ir mais adiante, recusando a primeira (trabalhadores) certamente não como organização. 

A crise ecológica é um claro fator em descrédito do progresso, porem como este dogma de fé foi por tanto tempo uma questão ignorada, esquecida. Ha algum significado no progresso, depois de tudo? 
A sua promessa começou a ser notada, em vários aspectos, desde de o começo da historia. Com a ascensão da agricultura e o inicio da civilização, por exemplo, a destruição progressiva da natureza, extensas áreas do oriente médio, África e Grécia foram transformadas em áreas desertas. 

Em termos de violência, a transformação do modo de vida pacífico e igualitário do coletor-caçador para a violência da agricultura/civilização foi rápida. "Vinganças, feudos, guerras e batalhas parecem ter emergido juntas, e típicas de povos domesticados", de acordo com Peter Wilson. E a violência certamente tem progredido ao longo do tempo, desnecessário dizer, das armas estatais de destruição em massa aos recentes assassinos em série. 

A doença propriamente dita se encontra perto de ser associada à invenção da vida civilizada, cada doença degenerativa conhecida faz parte da armadilha do aprimoramento histórico. Da plenitude e vitalidade sensual da pré-história, ao presente cenário de doenças endêmicas e sofrimentos psicológicos massivos - mais progresso. 

O ápice do progresso é a atual era da informação, que incorpora progressiva divisão de trabalho, de um tempo inicial de uma possibilidade de entendimento não mediado, ao estagio onde conhecimento se transforma meramente em um instrumento da totalidade repressiva, á corrente era cibernética onde dados são tudo o que resta. O progresso tem colocado significado de si próprio ao vôo. 

A ciência, a imagem do progresso, tem encarcerado e interrogado a natureza, enquanto a tecnologia tem sentenciado a natureza (e a humanidade) ao trabalho forçado. Da divisão original do ser que é a civilização, passando pela separação cartesiana da mente dos restos dos objetos (incluindo o corpo) para nosso árido presente de alta tecnologia - um movimento de fato estranho. Dois séculos atrás, dos primeiros inventores dos maquinários industriais foram confrontados pelos trabalhadores têxteis ingleses sujeitos aos maquinários, e tiveram como vilão todos, menos seus patrões capitalistas. Os designers da escravidão computadorizada de hoje são respeitados como heróis culturais, embora uma certa oposição começa a crescer. 

Na ausência de uma grande resistência, a lógica interna do desenvolvimento da sociedade de classes culminara, em seu ultimo estagio, em uma vida totalmente tecnificada. E relação do progresso da sociedade a da tecnologia é cada vez mais convergente. Walter benjamim, em sua ultima e melhor obra, teses sobre a filosofia da historia, expressa de modo lírico: 

"Uma pintura de Klee chamada ‘angelus novus’ mostra um anjo como se estivesse para se afastar de algo que ele esta contemplando fixamente. Seus olhos observam com atenção, suas bocas estão abertas suas asas estendias. É assim que se ilustrou o anjo da historia. Sua face esta virada para o passado. Onde nós percebemos uma cadeia de eventos, ele vê somente uma catástrofe que amontoa ruína sobre ruína e arremessa a seus pés. O anjo gostaria de fica r acordar os mortos e refazer o que foi destruído, mas uma tempestade esta vindo do paraíso; e atingiu suas asas com tanta violência que o anjo não pode mais fecha-las. Esta tempestade o atira irresistivelmente para o futuro para o qual esta de costas, enquanto o amontoado de ruínas por de traz dele cresce para o céu. Esta tempestade é o que chamamos progresso”. 


TexTo dE:John Zerzan

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Guerra Contra o Império Ianque

No dia 15 de fevereiro organizou-se mundialmente uma série de protestos contra a voraz máquina de guerra do Império Ianque. No Rio de Janeiro diversos anarquistas estiveram presentes em dois atos, um neste dia, na Zona Sul, e outro no dia anterior, no centro do Rio. A manifestação de sábado foi um saco de gatos, mas contra o Império "tá valendo". Levamos algumas bandeiras negras e uma faixa conjunta com o CELIP: "O Capitalista faz a Guerra, mas quem Morre é o Povo! - Nem Bu$h nem $addam". Também criamos alguns gritos na hora: "Capitalista faz a Guerra, mas o Povo é que se Ferra!" e "Capitalismo não é de Flores, Paz entre Nós, Guerra aos Senhores!".

Bush, ianque racista, lidera o fanatismo extremista norte-americano anglo-saxão. A Guerra contra o Iraque que vem à tona é uma das guerras que os EUA devem travar para seu expansionismo. Suas reservas de petróleo, apesar de grandes, são poucas para o absurdo a que chegou seu consumismo. A monstruosa e gargantuesca indústria bélica norte-americana precisa da guerra para reproduzir-se e não parar. Além disso os EUA participam ativamente em diversos conflitos de baixa intensidade e promovem diversas intervenções onde têm interesses políticos e econômicos. Tratam a América Latina como quintal e pagam políticos, militares e policiais destes países para trabalharem para os interesses do Governo dos EUA, além de contarem com o apoio do alto empresariado e do narcotráfico que dizem combater.

A Guerra contra o Império Ianque deve passar das manifestações, deve atingir a propaganda ativa, o boicote aos produtos e marcas norte-americanos como a Coca-Cola, o McDonnald's, a luta contra a consolidação do ALCA, contra o pagamento da dívida externa, a exigência de uma política firme de repúdio à Guerra por parte deste governo bunda mole e bunda suja, e expandir este protesto o quanto mais possível ao nosso cotidiano, nos nossos trabalhos de educação popular, rádios comunitárias e onde mais pudermos estar presentes.

Coletivo de Estudos Anarquistas Domingos Passos. Niterói, Fevereiro de 2003.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Polícia nas Ruas e Big Brother na TV - O "Pão e Circo" da Classe Média

Ultimamente, parece que a única coisa que se discute na mídia é Big Brother (seguido por uma infinidade de reality shows cretinos) e o crescimento da violência. Nada de mais relevante existe nesse país, nenhum mísero problema. Excetuando os dois temas, vivemos no vácuo da rotina quotidiana: será que a partir de agora, no limiar do glorioso “novo milênio”, nossas vidas serão resumidas a acordar, trabalhar, assistir B.B. e dormir, ao mesmo tempo que desviamos de balas perdidas e escapamos de seqüestros relâmpago?

Que diabo de televisão é essa, que quando pensamos não poder ficar pior, consegue se superar e metamorfosear-se em algo homogêneo: bosta. É impressionante o salto cultural que demos em tão pouco tempo, um grande salto para cima, para cairmos direto na vala! Só estamos esperando que se dê a descarga...

Câmeras! Câmeras! Câmeras! Vivemos a cultura das câmeras! Câmeras nos bancos, câmeras de trânsito, nos shoppings, nas escolas, reality shows, onde você possa imaginar, espionando o cotidiano. Claro, a intimidade também pode ser comercializada. Talvez eles coloquem câmeras dentro das bocas dos artistas de novelas, para nos masturbarmos com  o movimento das línguas. Vão colocar câmeras nas privadas, para que possamos ver como é a merda dos artistas e famosos. E no dia seguinte, uma enxurrada de inúteis programas de promoção e fofocas das vidas dos mesmos artistas e famosos, discutirá a respeito obturações e questões escatológicas. É a celebração da espionagem da vida alheia, da intimidade que não interessa a ninguém, só aos artistas, e famosos é claro, que querem se promover. Aliás muita gente questiona essa brilhante classe da sociedade receber o título de artistas. Como não? Claro que são artistas, artistas do grotesco, do patético, da arte da ostentação e da miséria mental. Nossos idolatrados modelos movidos à cocaína.

A violência também pode ser comercializada, gerando ibope. Desde os programas fasci-sensacionalistas, tipo Cidade Alerta, passando pelos telejornais, até os programas de auditório, sempre é possível espremer o tema até a última gota, sempre há um político idiota ou um convidado cretino para dar sua inútil opinião ou sua fórmula mágica para o fim do caos social. Ao mesmo tempo, os veículos de comunicação passam a “mensagem”. Repare que só se fala em investir em polícia, criar equipes gestapo-tarefa, usar desde as câmeras de trânsito até o exército contra o crime, e muitas outras perversões. É claro, essa é a prática de todo governo autoritário disfarçado de democrático: anunciar medidas de impacto para acalmar  principalmente a classe média e a elite; planos incríveis que prometem resultados em poucos meses, a mesma conversa de sempre! Não podemos esquecer dos vagabundos que vivem além da realidade, e utilizam a mídia para vomitar pena de morte, mais repressão e controle, tolerância zero, etc. em arroubos coléricos em favor de sua “liberdade”.

Mas, e aqueles que moram nas comunidades? Alguém vai perguntar pra eles se dá pra dormir com granada anti-tanque estourando na porta de casa? Não! A quem interessa? É tão bonito ver a zona sul do Rio mobilizada, toda de branco pedindo paz (só gostaria de saber para quem). Mas enquanto só o pobre tomava tiro e era estuprado ninguém ia pra rua pedir paz! Ninguém fala da brutal desigualdade social, da crescente miséria, acham que vão acabar com a violência botando um policial nas costas de cada cidadão. Na verdade não querem acabar com nada, o tráfico de drogas dá lucro pra elite e a miséria é o projeto das elites globais para países como o nosso. 

Em nossa sociedade da era industrial, a cultura de massas rege nossas necessidades, é a cultura do consumo. “Modelos” mostram como e o que devemos consumir para que tenhamos status, aquele que consome tem necessidades, e se ele tem necessidades deve consumir. Ficamos anestesiados, passando a vida toda em busca de sonhos, sonhos criados para nos manter correndo em círculos. O objetivo é a liberdade, mas a liberdade capitalista, do consumo, de poder ser como um dos milhares de “modelos” com os quais devemos nos identificar. Acontece que apenas uma minoria tem condições de consumir nesse país, e quando sua liberdade de consumo é impedida é que essa minoria começa a reclamar e se mobilizar. Quando o sujeito não pode andar com o relógio novo, no seu carro zero, não pode pegar dinheiro no caixa eletrônico, sofre seqüestro relâmpago, enfim, quando não é mais apenas o pobre que sofre a violência e ela chega também aos bairros da elite, é que a mesma sai às ruas e faz campanha bonita com artista de novela pedindo paz! O sonho não pode ser interrompido, eles vivem apenas para o consumo, para o ter, para a aparência e o status.

É o pão e o circo da classe média, só que o pão é vendido no shopping e o circo passa na tv. Dane-se o social! Polícia nas ruas! Policia nos morros! Mas só apontam o dedo na cara do morro: bandido! Traficante! Ninguém quer saber o que pensam, ou que a maioria daqueles que lá moram são pessoas que acordam de madrugada, pegam mais de uma condução e passam o dia dando duro, dando duro, entre outras coisas, para construir a casa em que você mora, para fazer o pão que você come todo dia, para limpar a rua em que você pisa, para te atender atrás do balcão, para vender bala no ônibus, para montar o carro e os aparelho que você usa, para deixar a classe média feliz. Pessoas que também sentem dor quando apanham da polícia, que também sofrem quando o filhos morrem de bala “perdida”.

Está na hora do nosso show da realidade, mas da realidade cotidiana, a verdadeira realidade. Nós somos os astros desse show e todos devemos sair vencedores. E é importante que saibamos muito bem quem deve ser eliminado: as elites e seu agente, o governo. Passo a passo pelo caminho que leva à revolução social e à autogestão!

 

Coletivo de Estudos Anarquistas Domingos Passos, 2002

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Feral

Fe-ral adj. Selvagem, ou existente em um estado natural, assim como ocorre com animais ou plantas; o que foi revertido da domesticação ao estado selvagem. 

Nós existimos em uma "paisagem de ausência" na qual a vida real está sendo sistematicamente escoada pelo trabalho degradante, o falso ciclo do consumismo e das futilidades mediadas pela dependência tecnológica. Hoje em dia não é só o estereótipo do yuppie viciado em trabalho que tenta enganar seu desespero através da atividade, preferindo não contemplar um destino não menos estéril do que o do planeta e a subjetividade (domesticada) em geral. Todavia nós somos confrontados pelas ruínas da Natureza e pela ruína de nossa própria natureza, a absoluta grandeza do amontoado de insignificâncias e inautenticidade por um tanto de mentiras. Ainda é trabalho monótono e envenenamento para a vasta maioria. Enquanto uma pobreza mais absoluta que a pobreza financeira deixa mais desolada a zona morta universal da civilização. Potencializados por computadores? Mais para infantilizados. Uma era de informação caracterizada pela comunicação intensificada? Não, pelo que poderia pressupor experiências que valeriam a comunicação. 
Um tempo de imprecedente respeito pelo individuo? Tradução: a escravidão assalariada necessita da estratégia do trabalhador autônomo na produção para evitar a contínua crise da produtividade, e as pesquisas de mercado devem direcionar cada "estilo de vida" ao interesse da cultura do consumidor.   
   
Nessa sociedade invertida, a solução para o massivo uso alienado e induzido de drogas é um bloqueado na mídia, com resultados tão embaraçantes quanto às centenas de milhões de gastos fúteis contra o aumento da abstenção eleitoral. (em muitos estados dos Estados Unidos o voto é facultativo). Enquanto isso a TV, que é a voz e a alma do mundo moderno, sonha em vão atrair a atenção ao crescimento da ignorância e do que restou da saúde emocional através de propagandas de trinta segundos ou menos. Na cultura industrializada de depressão irreversível, do isolamento e do cinismo, o espírito será o primeiro a morrer, e a morte do planeta será apenas uma lembrança tardia. Assim será, ao menos que apaguemos essa ordem podre, com todas as suas categorias e dinâmicas. 


Enquanto isso, o desfile de oposições parciais (portanto falsas), continua pelos seus caminhos habituais. Há os Verdes (partidos de cunho ambiental) e similares que tentam prolongar a vida do eleitorado, baseados na mentira de que é válido uma pessoa poder representar outra; esses tipos poderiam perpertuar apenas mais um espaço para o protesto, ao invés de ir direto à raiz da questão. O "movimento" pacifista exibe, em cada (uniformemente patético) gesto, que ele é o melhor amigo da autoridade, da propriedade e da passividade. Só para ilustrar: em maior de 1989, no vigésimo aniversário da luta pelo Parque do Povo de Berkleya, milhares de pessoas lutaram de forma admirável, destruindo 28 estabelecimentos comerciais e ferindo 15 policiais; Julia Talley, porta-vos do movimento pacifista declarou que "essas manifestações não possuem lugar no movimento pacifista". O que traz à toana os fatais estudantes irresponsáveis na Praça Tiananmen, depois que o massacre de 3 de Junho começou, tentando impedir os trabalhadores de lutar contra as tropas do governo. E a verdade é que a universidade é a fonte número um da estrangulação lenta conhecida como reforma, a recusa do rompimento qualitativo com a degradação. O Earth First! reconhece que a domesticação é a questão fundamental (ex. de que a própria agricultura é maligna), mas muitos de seus membros não vêem que nossa espécie possa se tornar selvagem novamente. 

Os ambientalistas radicais entendem que a transformação de florestas nacionais em áreas de extrativismo legalizado é meramente parte do projeto que também busca a própria eliminação dessas áreas. Mas terão que buscar o selvagem em todos os lugares, não só em áreas selvagens que são vistas como reservas isoladas. 

Freud viu que não há civilização sem a renúncia forçada dos instintos, sem uma coerção monumental. Mas, devido as massas estarem basicamente "ociosas e ignorantes", a civilização é justificável segundo Freud. Este modelo ou prescrição foi baseado na idéia de que a vida antes da civilização era brutal e miserável, uma idéia que tem sido surpreendentemente invertida nos últimos 20 anos. Em outras palavras, antes da agricultura, a humanidade existiu num estado de graça, tranquilidade e em comunhão com a natureza que hoje dificilmente poderíamos compreender. A perspectiva da autenticidade surge nada menos do que a partir de uma dissolução total da estrutura repressora da civilização, da qual Freud descreveu como "algo que foi imposto a uma maioria resistente por uma minoria, que sabia como obter a posse dos meios do poder e coerção." Nós podemos ainda continuar pelo caminho da domesticação e destruição ou irmos em direção à revolta otimista, apaixonada e selvagem, que aspira em dançar sobre as ruínas de relógios, computadores, e a destruição da imaginação e vontade o qual chamamos de trabalho. Podemos justificar nossas vidas por algo menos que esta política de raiva e sonhos? 



TexTo De:John Zerzan