segunda-feira, 2 de março de 2009

A Abolição do Trabalho

NINGUEM JAMAIS DEVERIA TRABALHAR 
O trabalho é a fonte de quase todos os sofrimentos do mundo. 
Praticamente qualquer mal que se possa mencionar vem do trabalho 
ou de se viver num mundo projetado para o trabalho. 

Isso não significa que precisamos parar de fazer coisas. Significa criar um novo estilo de vida baseado na brincadeira; em outras palavras, uma revolução lúdica. Com "brincadeira", quero dizer também festividade, criatividade, convívio, comensalidade e talvez até arte. Brincar é mais do que brincar como crianças, por mais que isso tenha seu valor. Eu clamo por uma aventura coletiva de alegria generalizada e exuberância livremente interdependente. Brincar não é algo passivo. Sem dúvida, precisamos de muito mais tempo do que temos agora para o ócio e a folga totais, independentemente de renda ou ocupação; mas, uma vez recuperados da exaustão causada pelo emprego, todos nós queremos agir. 
A vida lúdica é totalmente incompatível com a realidade existente. Pior para a "realidade", o buraco gravitacional que suga a vitalidade daquele pouco na vida que ainda a distingue da mera sobrevivência. Curiosamente - ou talvez não -, todas as velhas ideologias são conservadoras porque acreditam no trabalho. Algumas delas, como o marxismo e a maioria dos tipos de anarquismo, acreditam no trabalho ainda mais ferozmente porque acreditam em bem pouca coisa além dele. 
Os liberais dizem que devemos acabar com a discriminação nos empregos. Eu digo que temos que acabar com os empregos. Os conservadores apóiam leis de direito ao trabalho. Seguindo o genro rebelde de Karl Marx, Paul Lafargue, eu apóio o direito à preguiça. Os esquerdistas são a favor de pleno emprego. Como os surrealistas - só que eu não estou brincando -, sou a favor do pleno desemprego. Os trotskistas fazem agitação em nome da revolução permanente. Eu faço agitação em nome do deleite permanente. Mas se todos os ideólogos (como de fato eles fazem) defendem o trabalho - e não apenas porque planejam fazer com que outros trabalhem por eles -, estranhamente eles relutam em dizer isso. Falam sem parar de salários, jornadas, condições de trabalho, exploração, produtividade, rentabilidade. Falam de tudo, menos do próprio trabalho. Esses especialistas, que se oferecem para pensar por nós, raramente divulgam suas conclusões sobre o trabalho, por mais que ele tenha relevância na vida de todos nós. Entre eles, esmiuçam os detalhes. Sindicatos e patrões concordam que devemos vender o auge de nossa vida em troca de sobrevivência, embora discordem quanto ao preço. Os marxistas acham que devemos ser comandados por burocratas. Os liberais acham que devemos ser comandados por homens de negócios. Às feministas não importa qual a forma de comando, contanto que as comandantes sejam mulheres. Está claro que esses traficantes de ideologias têm diferenças sérias sobre como dividir  o espólio do poder. Também está claro que nenhum deles tem objeções ao poder em si, e todos querem nos manter trabalhando. 


 por Bob Black tradução: Michele de Aguiar Vartuli

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