sábado, 11 de abril de 2009

O corpo e a revolta


A historia inteira da civilização ocidental pode ser lida como o empreendimento sistematico em excluir e isolar o corpo. 
De Platão adiante, o corpo através dos tempos tem sido visto como loucura para se controlar, impulsos para se reprimir, força de trabalho para organizar, e inconsciente para a psicanalise. 

A separação platonica entre o corpo e mente, uma separação para total vantagem desta ultima ("o corpo é a tumba da mente"), acompanha até mesmo as aparentes expressões de pensamentos mais radicais. 

Hoje, esta tese é apoiada em numerosos textos filosoficos, todos eles exceto aqueles que são hostis a rarefeita e insalubre atmosfera das universidades. Uma leitura de Nietzche e autores como Hannan Arendt tem encontrado sua apropriada sistematisação escolastica (psicologia fenomenologica, idéia de diferença, e um modo de se "por de lado"). 
Entretanto, ou atualmente devido a isto, nao me pearece que este problema, suas implicações que são muitas e fascinantes, tem sido consideradas com profundidade. 

Uma profunda libertação do individuo integra uma igual e profunda transformação do modo de conceber o corpo, sua expressão e suas relações. 

Devido a uma herança bem treinada de guerra cristã, somos levados a acreditar que a dominação controla e expropria uma parte do ser sem danificar o seu intimo (e tem muito que poderia ser dito sobre a divisao entre um suposto ser intimo e relações externas). É claro, relações capitalistas e imposições estatais adulteram e poluem a vida, mas pensamos que a percepção de nós mesmos e do mundo permanecem inalteradas. Portanto mesmo quando imaginamos um rompimento radical com o existente, estamos claros de que é o nosso corpo que nos torna presente, em termos de agir sobre. 

Eu penso, em vez disso, que nosso corpo tem sofrido e continua a sofrer uma terrivel mutilação. E isso não é apenas devido aos aspectos obvios do controle e alienação determinadas pela tecnologia. 
(Que corpos tem sido reduzidos a reservatorios de orgãos está claramente mostrado pelo triunfo da ciencia dos transplantes, o que é descrito com um insidioso eufemismo "fronteria da medicina". Mas para mim a realidade me parece muito pior do que as especulações farmaceuticas e a ditadura da medicina como revela um corpo separado e poderoso.) O alimento, o ar, as relações diárias tem atrofiado nossos sentidos. 
A insensatez do trabalho, a sociabilidade forçada, a terrivel materialidade da conversa forçada e a toa, regimentam ambos o pensamento e o corpo, visto que nenhuma separação é possivel entre eles. 

O doce cumprimento da lei, os canais que imprisionam, cujo os desejos que por tal captividade realmente se transforma em tristes monstros deles mesmos, sao fraquesas anexados ao organismo assim como a poluição ou mediação forçada. 

"moralidade é exaustão" - disse Nietzsche. 

Afirmar a propria vida, tal exuberância que demanda ser dada, integra as transformações dos sentidos assim como das ideias e das relações. 

frequentemente venho a ver as pessoas como belas, mesmo fisicamente, aquelas que pareciam para mim insignificante até um curto periodo de tempo atrás. Quando você está projetando sua vida e testa a si mesmo numa possivel revolta com alguem, você ve em sua companhia individuos maravilhosos, e não mais as faces e corpos tristes que extinguem sua luz em habitos e coerção. Eu acredito que estão se tornando realmente belos (e nao porque eu simplesmente os vejo como tais) no momento em que eles expressam seus desejos e vivam suas idéias. 

A determinação etica de alguem que abandona e ataca as estruturas de poder é uma percepção, um momento no qual se experimenta a beleza dos companheiros e a miséria da obrigação e submissão. "Eu me revolto, portanto eu existo" é uma frase de Camus que nunca para de me encantar como uma unica razão pela qual a vida pode ter. 

Face a um mundo que apresenta etica como o espaço da autoridade e da lei, eu penso que não existe dimensão etica a nao ser na revolta, no risco, no sonho. A sobrevivencia na qual somos confinados é injusta porque brutaliza e torna feio. 

Apenas um corpo diferente pode perceber a visão ampla da vida que se abre ao desejo e a mutualidade, e apenas um esforço em direção ao maravilhoso e ao desconhecido pode libertar nossos corpos acorrentados. 

Tradução: erva daninha 
Texto:Massimo Passamani 

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