quarta-feira, 15 de abril de 2009

Criticar a Civilização?


Somos responsáveis pela civilização, ela é produto de nosso trabalho, mas é a civilização algo realmente benéfico para nós? A civilização é composta de cidadãos, que vivem em cidades ou ao redor das cidades. A cidade é completamente diferente da aldeia. Enquanto na aldeia todos os membros são equivalentes e ninguém tem dúvidas quanto à sua inserção na tribo, nas cidades nós vivemos correndo atrás de algo que nunca alcançamos: a cidadania. E por que a cidadania não é algo natural para nós? Por que temos que nos esforçar tanto para ser cidadãos, se os tribais não precisam de esforço nenhum para viver em tribo?

Civilização é tudo que está sob controle dos cidadãos, ou dos candidatos a cidadãos. Fora dela resta a anarquia. Para os candidatos a cidadãos, a anarquia é uma sociedade desorganizada, ou nem mesmo é uma sociedade. É um estado que não pode durar muito tempo, que é instável. A verdade é bem o oposto. O homem existe há centenas de milhares de anos. A agricultura expansiva e toda a base da civilização são extremamente recentes na história do homem. A história que nós aprendemos na escola é a história da civilização. Mas a verdadeira história do homem não começa com a civilização, pois os verdadeiros homens não são os civilizados. Os homens civilizados são apenas uma das populações humanas, uma população que se expandiu demais durante o último piscar de olhos da história, e tomou conta o mundo. Não foi o domínio do mais adaptado, não houve tempo para isso.

Os tribais são não-civilizados, não porque falte capacidade para tal, mas porque vivem bem sem a civilização. A civilização não foi necessária para os seres humanos durante 99% de sua história, e certamente não é necessária agora. A maneira com que vivemos agora não é a maneira com que estávamos destinados a viver desde que surgimos. Achamos que nossa cultura é rica e diversa, mas na verdade ela é pretensamente universal. Ela é instável porque ela depende de um processo de crescimento acelerado, que é insustentável. Ela muda desesperadamente porque tenta se adaptar a algo que não tem condições de existir por muito tempo na natureza, mas o que realmente causa o problema continua inquestionável.

As culturas tribais criaram os valores que hoje temos por inestimáveis, os valores que chamamos de humanos. O valor do amor, da amizade, da coragem, da honra... Esses valores geram comportamentos que em algum momento foram escolhas conscientes de seres humanos, seres humanos não nasceram sabendo sobre essas coisas. São idéias que deram certo, ninguém precisou fundar escolas ou fazer qualquer projeto de educação. A cultura não é meramente um conjunto de idéias, é um modo de viver, e depende da ação dos homens no meio para se fazer existente. O meio que nós criamos para nós mesmos, as cidades, nos influenciam a viver de uma maneira prejudicial, mas nós continuamos criando cidades e tentando viver nelas. É como esperar que as pessoas tenham sossego sem deixar de fazer cada vez mais barulho. É claro que precisamos de um ambiente sossegado para ter sossego, de um ambiente pacífico para ter paz. De nada adianta dizer: “As pessoas precisam se amar mais” se elas continuam trabalhando na construção de algo essencialmente destrutivo.

Nosso modo de vida é apenas um entre muitas possibilidades. É um modo de vida que possibilita coisas impressionantes, mas é altamente custoso. E quem paga o preço não somos apenas nós, são todos os seres vivos deste planeta. Eles pagam o preço dos nossos benefícios, que são cada vez mais exclusivos. Então você me pergunta: “Por que deveríamos criticar a civilização, isso não é loucura?”. Loucura é continuar com este projeto, uma vez que você entenda no que ele se fundamenta.

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